(FUVEST - 2016 - 2ª fase)
Leia estes dois excertos das obras indicadas e responda ao que se pede.
(...) Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias
Na ocasião em que Léonie partia pelo braço do amante, acompanhada até o portão por um séquito de lavadeiras, a Rita, no pátio, beliscou a coxa de Jerônimo e soprou-lhe à meia voz:
- Não lhe caia o queixo!...
.. O cavouqueiro teve um desdenhoso sacudir d’ombos.
- Aquela pra cá nem pintada!
E, para deixar bem patente as suas preferências, virou o pé do lado e bateu com o tamanco na canela da mulata.
- Olha o bruto! ... queixou-se esta, levando a mão ao lugar da pancada. Sempre há de mostrar que é galego!
Aluísio Azevedo, O cortiço.
a) Embora os excertos pertençam a romances de diferentes estilos de época – um é romântico e outro, naturalista –, é bastante visível que, neles, o modo de representar as relações de caráter erótico apresenta várias semelhanças. Essa similaridade é sobretudo pontual, isto é, mais concentrada nesses excertos, ou, ao contrário, ela continua a ocorrer, ao longo dos romances? Explique resumidamente.
b) Em ambos os excertos, assim como no conjunto das obras a que pertencem, é notória a predisposição a retratar as personagens de origem portuguesa de um modo bastante peculiar, influenciado por uma determinada corrente de opinião, existente no contexto histórico-social dos períodos em que as obras foram escritas. Identifique esse modo de representar tais personagens e a corrente de opinião que o influencia. Explique sucintamente
Gabarito:
Resolução:
a) A similaridade na abordagem erótica dos romances configura-se de modo mais pontual nesses excertos, em que ela é representada através de pequenos gestos de importunação física no caso de ambos casais. No restante do enredo dos romances, contudo, há diferenças marcantes nesse tópico, correspondentes à estética da qual participam. Enquanto o romance naturalista trata das relações sexuais e afetivas sob uma perpectiva mais animalesca, por vezes zoomorfizando as personagens e revelando aspectos mais instintivos de suas relações, socialmente determinadas, a prosa romântica trata desse tópico com mais sutileza e ironia, revelando jogos de sedução e traços mais coloquiais e sociais das relações amorosas entre suas personagens.
b) A representação da figura do português nos romances em questão se determinam não só pelas correntes estéticas às quais cada um se filia, mas também pelo contexto sociopolítico de sua produção. Em ambos romances, o estereótipo lusitano é associado a personagens broncas, toscas e planas. Diferente dos tipos brasileiros, flexíveis, espertos e vivazes, personagens como Jerônimo e Leonardo figuram o homem facilmente seduzido, mas ao mesmo tempo sisudo e "bitolado" que, até os dias de hoje, permnece em certo grau no imaginário popular brasileiro sobre o povo colonizador.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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