(FUVEST - 2016 - 2 fase)
Leia o texto.
(...) Muita gente o tinha odiado. E ele odiara a todos. Apanhara na polícia, um homem ria quando o surravam. Para ele é este homem que corre em sua perseguição na figura dos guardas. Se o levarem, o homem rirá de novo. Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão. Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para. Sobe para o pequeno muro, volve o rosto para os guardas que ainda correm, ri com toda a força do seu ódio, cospe na cara de um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço como se fosse um trapezista de circo. A praça toda fica em suspenso por um momento. “Se jogou”, diz uma mulher, e desmaia. Sem-Pernas se rebenta na montanha como um trapezista de circo que não tivesse alcançado o outro trapézio. O cachorro late entre as grades do muro.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
Para responder ao que se pede, atente para as informações referentes à localização espacial dessa cena, na qual se narram a perseguição e a morte de Sem-Pernas
a) A cena se passa diante do conhecido Elevador Lacerda (foto acima), que vem a ser um dos mais famosos “cartões-postais” de Salvador, Bahia. Qual é o efeito de sentido introduzido na cena por essa característica da localização espacial?
b) Observe que o Elevador Lacerda, de uso público, situa-se no desnível brusco e pronunciado que, em Salvador, separa a “Cidade Alta” (parte mais moderna da cidade, considerada seu centro econômico) da “Cidade Baixa” (sobretudo portuária e popular). Que sentido essa característica do espaço confere à cena?
Gabarito:
Resolução:
a) Os romances de Jorge Amado, por seu tom social, buscam constantemente revelar contradições humanas e injustiças sociais de sua região. O suicídio de Sem-Pernas, membro do grupo dos Capitães da Areia, é o clímax da trajetória do jovem, injustiçado produto de uma sociedade que o persegue, o exclui e o ridiculariza. Ao inserir a marcante descrição de sua morte no belo e turístico cenário do elevador Lacerda, o autor do romance opera mais uma vez o contraste entre as belezas e as riquezas de Salvador, e os horrores que acometem a parcela mais excluída de seus habitantes. A imagem que opõe a paisagem física e a paisagem humana é um forte recurso narrativo num romance que, seguindo a esteira da geração de 30, procura revelar problemas de ordem política e social no Brasil.
b) A relação entre os espaços urbanos, que contrapõe a cidade "Alta" e a "Baixa", encerra de forma alegórica a vida do garoto Sem-Pernas. Ele, que passava os dias ludibriando senhoras e donas ricas para informar o bando de possíveis furtos e ações, e mesmo após a marcante convivência com D. Ester, uma senhora que o acolhe como filho na parte rica, seu corpo é devolvido ao lugar de onde veio e a onde, aos da sociedade, pertence. O rapaz se lança ao baixo, ao subúrbio e ao sujo - revelando que sua condição humana e social manteve-se inalterada e, como produto de um sistema de injustiças, o acompanhou até o fim.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
Ver questão
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
Ver questão
(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
Ver questão
(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
Ver questão