Questão 37529

(FUVEST - 2019 - 2ª fase)

Os trechos seguintes foram extraídos do texto “Casas de cômodos”, que consiste em um apanhado de impressões recolhidas pelo escritor Aluísio Azevedo. Leia-os para responder às questões.

I. Há no Rio de Janeiro, entre os que não trabalham e conseguem sem base pecuniária fazer pecúlio e até enriquecer, um tipo digno de estudo – é o “dono de casa de cômodos”; mais curioso e mais completo no gênero que o “dono de casa de jogo”, pois este ao menos representa o capital da sua banca, suscetível de ir à glória, ao passo que o outro nenhum capital representa, nem arrisca, ficando, além de tudo, isento da pecha de mal procedido. Quase sempre forasteiro, exercia dantes um ofício na pátria que deixou para vir tentar fortuna no Brasil; mas, percebendo que aqui a especulação velhaca produz muito mais do que o trabalho honesto, tratou logo de esconder as ferramentas do ofício e de fariscar os meios de, sem nada fazer, fazer dinheiro.

II. (...) há sempre uma quitandeira de quem o dono da casa de cômodos, começando por merecer a simpatia, acaba por conquistar a confiança e o amor. Juntam-se e, quando ela dá por si, está cozinhando e lavando para todos os hóspedes do eleito do seu coração, sem outros vencimentos além das carícias, que lhe dá o amado sócio. Assim chega a empresa ao seu completo desenvolvimento, e o dono da casa de pensão começa a ganhar em grosso, acumulando forte, sem trabalhar nunca, nem empregar capital próprio, até que um dia, farto de aturar o Brasil, passa com luvas o estabelecimento e retira-se para a pátria, deixando, naturalmente também com luvas, a preciosa quitandeira ao seu substituto.

Aluísio Azevedo, Casas de cômodos.

 

a) Que recurso da estética naturalista surge já no início das notas, feitas em razão do cotidiano nacional da época? Justifique.

b) Para o leitor de O Cortiço, salta à vista o aproveitamento que Aluísio Azevedo fez de parte dessas impressões ao conceber a relação entre João Romão e Bertoleza. Há também, contudo, diferenças relevantes. Qual o fator que, central na sociedade brasileira do século XIX, acentua o tom perverso do final do romance? Justifique com base no enredo

Gabarito:

Resolução:

Resolução:

a) O Naturalismo, como uma ramificação do Realismo, tem como objetivo analisar o comportamento humano e social. Essas características são realizadas através de um viés determinista, que considerava que o homem era guiado por fatores: físicos, biológicos, hereditários e era fruto de seu meio.

Por conta desse direcionamento, o estilo era impregnado por uma linguagem cientificista e simples, que tinha como finalidade tornar a sociedade objeto de análise científica.

Essa questão pode ser observada logo no começo do primeiro fragmento através de uma descrição impessoal e que localiza o fato (Há, no Rio de Janeiro) e pela narração de uma situação social – das pessoas que conseguem enriquecer sem o uso de capital financeiro e força de trabalho pessoal. Esses aspectos confirmam a característica marcante do Naturalismo, o Determinismo, em que o ambiente influencia o comportamento e o caráter do indivíduo.

 

b) O fator ligado ao final da narrativa é a questão do processo de abolição da escravatura. A semelhança do que foi apresentado nas impressões dos trecho é a seguinte: foi através do dinheiro de Bertoleza, pagamento que devia ser feito ao seu senhor, que João Romão enriqueceu. Além da ajuda de sua força de trabalho sem remuneração. Depois de usufruir dos serviços da mulher, Romão, ao contrário do que é observado no texto II, não passa o empreendimento e a mulher a um outro dono, mas sim a entrega para família do senhor de Bertoleza. Ela, que acreditava ser alforriada, desespera-se com o golpe e comete suicídio. A morte da personagem no final do livro salienta as problemáticas envolvendo os direitos e liberdade dos negros que foram conseguidos paulatinamente, e não logo após a assinatura da Lei Áurea.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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