Questão 38159

(Mackenzie 2017)

Incidente em Antares (fragmento)

Durante alguns minutos a defunta fica a olhar em torno – para a esplanada, o céu, o muro do cemitério, a lanterna acesa caída no chão... Depois se põe de joelhos e nessa posição, lentamente, faz a volta do esquife vizinho, desatarraxando-lhe a tampa, que tenta em vão erguer, terminada a operação. Bate três vezes com o punho cerrado na tampa do caixão negro, cujo ocupante responde, após segundos, com três batidas semelhantes. D. Quitéria vê a tampa que ela desaparafusou erguer-se lentamente e por fim cair para um lado. Um homem de estatura mediana e vestido de escuro sai do seu féretro, dá alguns passos com uma rigidez de boneco de mola, olha a seu redor, inclina-se, apanha a lanterna, passeia a sua luz pelo muro do cemitério, depois pela copa dos cinamomos, projeta-a contra a esplanada e por fim foca o rosto da dama, que continua ajoelhada.

— D. Quitéria Campolargo! – exclama o desconhecido. — Que honra! Que prazer!

Érico Veríssimo​

Auto da Barca do Inferno (fragmento)

ANJO

Que quereis?

FIDALGO

Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do Paraíso
é esta em que navegais. 

ANJO

Esta é; que demandais?

FIDALGO

Que me leixeis embarcar.
Sou fidalgo de solar,
é bem que me recolhais. 

ANJO

Não se embarca tirania
neste batel divinal. 

FIDALGO

Não sei porque haveis por mal
que entre a minha senhoria... 

ANJO

Pera vossa fantesia
mui estreita é esta barca. 

FIDALGO

Pera senhor de tal marca
nom há aqui mais cortesia?
Venha a prancha e atavio!
Levai-me desta ribeira!

ANJO

Não vindes vós de maneira
pera entrar neste navio.
Essoutro vai mais vazio:
a cadeira entrará
e o rabo caberá
e todo vosso senhorio.
Ireis lá mais espaçoso,
vós e vossa senhoria,
cuidando na tirania
do pobre povo queixoso.
E porque, de generoso,
desprezastes os pequenos,
achar-vos-eis tanto menos
quanto mais fostes fumoso.

Gil Vicente

A armadilha (fragmento)

Meu nome é Mort. Ed Mort. 1Sou detetive particular. Pelo menos isso é o que está escrito numa plaqueta na minha porta. Estava sem trabalho há meses. Meu último caso tinha sido um flagrante de adultério. 2Fotografias e tudo. 3Quando não me pagaram, vendi as fotografias. Eu sou assim. Duro. Em todos os sentidos. O aluguel da minha sala ― o apelido que eu dou para este cubículo que ocupo, entre uma escola de cabeleireiros e uma pastelaria em alguma galeria de Copacabana ― estava atrasado. 4Meu 38 estava empenhado. Minha gata me deixara por um delegado. A sala estava cheia de baratas. 5E o pior é que elas se reuniam num canto para rir de mim. Mort. Ed Mort. Está na plaqueta.

Luis Fernando Veríssimo

Assinale a alternativa que NÃO pode ser associada ao teatro de Gil Vicente.

A

[...] aparecem os homens livres pobres e também os escravos, tidos os primeiros como parasitas, e os segundos como tipos preguiçosos que nada fazem e devem ser frequentemente punidos. (Fernando Juarez De Cardoso)

B

Muitas de suas peças são moralidades [...] Seus autos, contudo, não têm a rigidez das moralidades da época; as alegorias transformam-se em vida, em personagens saborosos. (Anatol Rosenfeld)

C

[...] predomina [...] a sucessão de pequeninos quadros, a lembrar a mesma técnica da pintura narrativa medieval e das novelas de cavalaria. (Segismundo Spina)

D

Seu teatro, essencialmente moral e social, eì marcado pela intenção crítica. O riso, a sátira e os gracejos tinham um endereço certo: o público que assistia às encenações e que acabava por rir de si mesmo, sem que, por cegueira ou vaidade, se reconhecesse. (João Domingues Maia)

E

[...] traz em si características de um momento de transição portuguesa, assim é marcado por traços que indicam desde elementos medievais até elementos renascentistas. (Alexandre Huady Torres Guimarães)

Gabarito:

[...] aparecem os homens livres pobres e também os escravos, tidos os primeiros como parasitas, e os segundos como tipos preguiçosos que nada fazem e devem ser frequentemente punidos. (Fernando Juarez De Cardoso)



Resolução:

a) [...] aparecem os homens livres pobres e também os escravos, tidos os primeiros como parasitas, e os segundos como tipos preguiçosos que nada fazem e devem ser frequentemente punidos. (Fernando Juarez De Cardoso)

No teatro vicentino não há essa concepção a respeito de homens livres pobres e escravos. Tomando o Auto da Barca como exemplo, podemos dizer que a visão exprimida é de eles são oprimidos e, por isso, merecem a salvação.

b) Muitas de suas peças são moralidades [...] Seus autos, contudo, não têm a rigidez das moralidades da época; as alegorias transformam-se em vida, em personagens saborosos. (Anatol Rosenfeld)

Vicente não se preocupa em reproduzir os valores privilegiados da época, mas sim retratar os costumes, independente daquilo que é tido como o mais correto/dentro da moral. 

c) [...] predomina [...] a sucessão de pequeninos quadros, a lembrar a mesma técnica da pintura narrativa medieval e das novelas de cavalaria. (Segismundo Spina)

Sim, as cenas acontecem transicionando os personagens e acontecimentos em um mesmo cenário. 

d) Seu teatro, essencialmente moral e social, é marcado pela intenção crítica. O riso, a sátira e os gracejos tinham um endereço certo: o público que assistia às encenações e que acabava por rir de si mesmo, sem que, por cegueira ou vaidade, se reconhecesse. (João Domingues Maia)

Correto, o próprio autor já dizia: “Rindo se castigam os costumes”.

e) [...] traz em si características de um momento de transição portuguesa, assim é marcado por traços que indicam desde elementos medievais até elementos renascentistas. (Alexandre Huady Torres Guimarães)

Correto, o teatro vicentino é humanista, está em uma transição entre o trovadorismo e classicismo, momento que marca o fim da idade média e fim da idade moderna.

Dessa maneira, a alternativa a ser assinalada é a letra [A]. 



Questão 1839

(Mackenzie 2012) Assinale a alternativa correta.

 

O leão e a raposa

 

11Um leão envelhecido, 1não podendo mais procurar alimento por sua própria conta, julgou que devia arranjar um jeito de fazer isso. E, então, foi a uma caverna, deitou-se e se fingiu de doente. Dessa forma, quando 8recebia a visita de outros 13animais, ele 4os pegava e 5os comia. Depois que muitas 14 feras 6 já tinham morrido, uma 12raposa, ciente da armadilha, parou a 9certa distância da caverna e perguntou ao leão como ele estava. Como ele 2respondesse: “Mal!” e lhe 3perguntasse 10por que ela não entrava, disse a raposa: “Ora, eu entraria 7se não visse marcas de muitos entrando, mas de ninguém saindo”.

Esopo - escritor grego do século VI a.C. 

 

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Questão 1864

(Mackenzie - 2012)

Assinale a alternativa correta

O leão e a raposa

Um 11leão envelhecido, 1não podendo mais procurar alimento por sua própria conta, julgou que devia arranjar um jeito de fazer isso. E, então, foi a uma caverna, deitou-se e se fingiu de doente. Dessa forma, quando 8recebia a visita de outros 13animais, ele 4os pegava e 5os comia. Depois que muitas 14feras 6 já tinham morrido, uma 12raposa, ciente da armadilha, parou a 9certa distância da caverna e perguntou ao leão como ele estava. Como ele 2respondesse: “Mal!” e lhe 3perguntasse 10por que ela não entrava, disse a raposa: “Ora, eu entraria 7se não visse marcas de muitos entrando, mas de ninguém saindo”.

Esopo - escritor grego do século VI a.C.

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Questão 1894

(MACKENZIE/Adapatada) 

Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é INCORRETO afirmar que:

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Questão 1895

(Mackenzie 1997)

Assinale a alternativa INCORRETA a respeito das cantigas de amor.

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