(FUVEST - 2020 - 1ª fase)
TEXTOS PARA AS QUESTÕES DE 33 A 35
Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.
Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.
O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem. Graciliano Ramos, Angústia. Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.
Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia. 33
Para Graciliano Ramos, Angústia não faz concessão ao gosto do público na medida em que compõe uma atmosfera
dramática, ao representar as tensões de seu tempo.
grotesca, ao eliminar a expressão individual.
satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso.
ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e mundo.
alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira.
Gabarito:
dramática, ao representar as tensões de seu tempo.
Para Graciliano Ramos, Angústia não faz concessão ao gosto do público na medida em que compõe uma atmosfera
Alternativas
dramática, ao representar as tensões de seu tempo.Comentário: alternativa correta.É evidente a presença do drama e das tensões de seu tempo, como as alusões à abolição da escravidão e ao governo do Getúlio Vargas.
grotesca, ao eliminar a expressão individual.Comentário: alternativa incorreta. A obra "Angústia" pode ser considerado um romance psicológico, isto é, essencialmente ligado ao indivíduo, escrito em primeira pessoa, pelo narrador protagonista Luis da Silva,sendo assim, não elimina a expressão individual.
satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso.Comentário: alternativa incorreta.Na obra de Graciliano Ramos não se pode afirmar a presença de elementos de caráter satírico.
ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e mundo.Comentário: alternativa incorreta. Não há um aspecto ingênuo, mas um egocentrismo, de modo que não há equilíbrio entre sujeito e mundo.
alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira.Comentário: alternativa incorreta.Luis da Silva é perturbado, sente-se um lixo na sua vida pessoal, contudo, não é exaltado a sujeira, no sentido denotativo, isto é, no sentido literal.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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