Questão 44237

(FUVEST - 2020 - 1ª fase)

Agora, o Manuel Fulô, este,sim! Um sujeito pingadinho, quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo tipo –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam‐se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia‐lua; malares pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol.

Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana.

*sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço

 

O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que

A

há clara antipatia do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”.

B

estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro.

C

a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro.

D

é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na luta física.

E

se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua.

Gabarito:

estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro.



Resolução:

O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que

Alternativas

  1. há clara antipatia do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”.Comentário: alternativa incorreta.Nesse conto, observa-se o narrador-testemunha; que conta a história de um médico que está a serviço na região e que tem simpatia pelo Manuel Fulô.

  2. estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro.Comentário: alternativa correta. O personagem Manuel Fulô, é descrito no conto “Corpo fechado” como um indivíduo marcado pela a sua mestiçagem: “caburé”, “sangue aimoré” e “gálico” e nariz “mongol”.

  3. a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro.Comentário: alternativa incorreta.Não há determinismo biológico em Guimarães Rosa.

  4. é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na luta física.Comentário: alternativa incorreta.No final do da narrativa, Manuel Fulô mata o valentão Targino, mas não é evidente o aspecto irônico do conto.

  5. se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua.Comentário: alternativa incorreta.O trecho sobre os olhos é antecedido por uma descrição física, ou seja, não está atrelado ao aspecto comportamental do ser humano(ingenuidade), mas puramente uma simples caracterização física.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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