(FUVEST - 2020 - 1ª fase)
A certa personagem desvanecida
Um soneto começo em vosso gabo*;
contemos esta regra por primeira;
já lá vão duas, e esta é a terceira,
já este quartetinho está no cabo.
Na quinta torce agora a porca o rabo:
a sexta vai também desta maneira;
na sétima entro já com grã** canseira,
e saio dos quartetos muito brabo.
Agora, nos tercetos, que direi:
direi que vós, Senhor, a mim me honrais,
gabando-vos a vós eu fico um rei.
Nesta vida um soneto já ditei;
se desta agora escapo, nunca mais.
louvado seja Deus, que o acabei!
Gregório de Matos
*louvor **grande
Tipo zero
Você é um tipo que não tem tipo
Com todo tipo você se parece
E sendo um tipo que assimila tanto tipo
Passou a ser um tipo que ninguém esquece
O tipo zero não tem tipo
Quando você penetra no salão
E se mistura com a multidão
Esse seu tipo é logo observado
E admirado todo mundo fica
Que o seu tipo não se classifica
E você passa a ser um tipo desclassificado
Eu até hoje nunca vi nenhum
Tipo vulgar, tão fora do comum
Que fosse um tipo tão observado
Você ficou agora convencido
Que o seu tipo já está batido
Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado
Noel Rosa
O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem
o processo de composição do texto.
a própria inferioridade ante o retratado.
a singularidade de um caráter nulo.
o sublime que se oculta na vulgaridade.
a intolerância para com os gênios.
Gabarito:
a singularidade de um caráter nulo.
O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem
Alternativas
a) o processo de composição do texto.Comentário: alternativa incorreta.Apenas o primeiro poema é de caráter metalinguístico,isto é, ironiza a composição.
b) a própria inferioridade ante o retratado.Comentário: alternativa incorreta.Os dois eu líricos criticam o personagem que descrevem, sendo assim, não é apresentado nenhum teor de inferioridade entre ambos.
c) a singularidade de um caráter nulo.Comentário: alternativa correta. De formas muito distintas, tanto Gregório como Rosa apropriam-se, nas letras em questão, de personalidades que se apagam, tornam-se irrelevantes diante de Deus e da sociedade, respectivamente. No soneto barroco, o eu-lírico passa 14 versos sem conceber nenhum aspecto do enunciador, mostrando sua nulidade. Na canção, o sujeito é descrito, e revela-se um "tipo zero", vazio. Esses são os "caráteres nulos" a que a letra [C] remete. O segundo movimento nos poemas, e que está presente em [C], é a singularização desses "tipos". Sua nulidade é tamanha que eles adquirem um status privilegiado: tanto como o próprio eu lírico do poema, que "fica um rei" ao louvar o Senhor; como o sujeito observado na canção, que de tão discreto torna-se notável. Essa é a singularidade revelada em um e outro texto - ponto em que convergem.
d) o sublime que se oculta na vulgaridade.Comentário: alternativa incorreta.Não há o sublime nos personagens descritos.
e) a intolerância para com os gênios.Comentário: alternativa incorreta.Os personagens criticados não são geniais.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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