Questão 44418

 (FUVEST - 2020 - 2ª fase)

Texto 1

Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos os seus atos, todos, fosse o mais simples, visavam um interesse pecuniário. Só tinha uma preocupação: aumentar os bens. Das suas hortas recolhia para si e para a companheira os piores legumes, aqueles que, por maus, ninguém compraria; as suas galinhas produziam muito e ele não comia um ovo, do que no entanto gostava imenso; vendia os todos e contentava se com os restos da comida dos trabalhadores. Aquilo já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular, de reduzir tudo a moeda. E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda às hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, de tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça, apoderando se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não podia apoderar se logo com as unhas.

Aluísio Azevedo, O Cortiço.

 

Texto 2

(...) Rubião é sócio do marido de Sofia, em uma casa de importação, à Rua da Alfândega, sob a firma Palha & Cia. Era o negócio que este ia propor lhe, naquela noite, em que achou o Dr. Camacho na casa de Botafogo. Apesar de fácil, Rubião recuou algum tempo. Pediam lhe uns bons pares de contos de réis, não entendia de comércio, não lhe tinha inclinação. Demais, os gastos particulares eram já grandes; o capital precisava do regime do bom juro e alguma poupança, a ver se recobrava as cores e as carnes primitivas. O regime que lhe indicavam não era claro; Rubião não podia compreender os algarismos do Palha, cálculos de lucros, tabelas de preço, direitos da alfândega, nada; mas, a linguagem falada supria a escrita. Palha dizia coisas extraordinárias, aconselhava o amigo que aproveitasse a ocasião para pôr o dinheiro a caminho, multiplicá-lo.

Machado de Assis, Quincas Borba. 

 

a) Como o contraste entre os trechos “já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular” e “não entendia de comércio, não lhe tinha inclinação”, respectivamente sobre as personagens João Romão e Rubião, reflete distintas linhas estéticas na prosa brasileira do fim do século XIX? 

b) A partir das diferentes esferas sociais e práticas econômicas referidas nos fragmentos, trace um breve paralelo entre as trajetórias dos protagonistas nos dois romances.

 

Gabarito:

Resolução:

a) Os trechos de “O cortiço” e “Quincas Borba” revelam, respectivamente, as inclinações naturalistas e realistas da prosa desses autores. Enquanto Aluísio de Azevedo descreve a “febre pecuniária” do protagonista como uma consequência quase animal e instintiva, em meio ao seu crescimento capitalista, Machado opta por revelar aspectos da personalidade e psicologia de Rubião para justificar sua baixa disposição para assuntos financeiros. Os trechos revelam preocupações e estéticas semelhantes, pelo retrato social e as temáticas preponderantes nas letras oitocentistas brasileiras, mas distintas na medida de seus enfoques, como é perceptível nessa comparação. 

b) As trajetórias dos protagonistas azevediano e machadiano revelam duas formas de “ética” capitalista, bastante discutidas e presentes na sociedade brasileira do século XIX. Rubião enriquece por acaso, com a herança recebida de Quincas Borba, e, diante do inesperado enriquecimento, assume uma postura ingênua e pouco engajada em seus trâmites, o que permite que ele seja ludibriado. O dono do cortiço, por outro lado, é um capitalista que trabalha para enriquecer e obter seu capital, em nada inocente e altamente manipulador e mesquinho, que em diversos momentos abusa de seu poder e constrói, à custa de uma agressividade capitalista e um espírito bem distinto do de Pedro Rubião.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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