Questão 44803

(FUVEST - 2006 - 1 FASE )

Costuma-se reconhecer que tanto O primo Basílio quanto as Memórias póstumas de Brás Cubas possuem notável conteúdo de crítica social. Apesar das muitas diferenças que separam os dois romances, em ambos essa crítica

A

fundamenta-se em minuciosa análise das relações sociais e tem como finalidade propor soluções construtivas para os problemas detectados.

B

dá a ver um conjunto de personagens que, com raras exceções, têm como traços mais marcantes a inconsistência, a pretensão, a veleidade e outras características semelhantes, figurando assim uma sociedade globalmente medíocre.

C

assume a forma do romance de tese, próprio da estética realista, no qual se procura validar um conjunto de hipóteses científicas, verificando-se sua pertinência na vida social das personagens.

D

visa a demonstrar o prejuízo que o excesso de leituras romanescas pode trazer à formação moral dos indivíduos, em particular quando interfere na educação das mulheres, matrizes da família.

E

incide principalmente sobre as mazelas sociais derivadas da persistência da escravidão em um contexto já moderno, no qual ela não mais se justifica.

Gabarito:

dá a ver um conjunto de personagens que, com raras exceções, têm como traços mais marcantes a inconsistência, a pretensão, a veleidade e outras características semelhantes, figurando assim uma sociedade globalmente medíocre.



Resolução:

[B]

a) INCORRETA. O tom dos romances em questão não é moralizante, e por isso é incorreto dizer que buscam oferecer uma "moral da história", ou encaminhamentos que revelem possíveis soluções às questões sociais cotejadas, como a traição, a loucura, as aparências, a morte, a família, etc. As obras são abertas no sentido de permitir a critica sem cerrar as possibilidades e os caminhos da sociedade em pauta; 

b) CORRETA. Como bons personagens realistas, as figuras de "Memórias Póstumas" e "O primo Basílio" são esféricas, ou seja, complexas, imperfeitas, circulares - cujas histórias são marcadas por supostos "desvios" de ordem moral. A traição consumada nos dois romances, bem como a atuação mentirosa de criados, a presença da chantagem, o interesse econômico e a corrupção, etc são marcas de um retrato crítico das burguesias brasileira e portuguesa - reveladas em sua intimidade medíocre e leviana, ainda que complexa; 

c) INCORRETA. A estética e proposta do "romance-tese" pertence à esteira literária mais propriamente naturalista, e não realista. Nas obras de Eça e Machado, ainda que a argumentação e a crítica sejam constantes, não há o interesse de uma defesa científica e exata de hipóteses sobre os constituintes humanos das narrativas, mas sim um viés mais filosófico e psicológico, no sentido de avaliar com subjetividade e maior polifonia as questões caras  à moral oitocentista; 

d) INCORRETA. A questão da leitura de romances (recortada pela questão feminina), está presente em "O primo Basílio", mas não em forma de censura. No romance machadiano não é mencionada a questão da leitura romanesca e da leitura feminina, uma vez que Virgília, personagem central, não é tida como grande leitora; 

e) INCORRETA. O romance de Eça de Queirós não apresenta a escravidão como pano de fundo ou ponto central de crítica, uma vez que em Portugal suas mazelas não eram sentidas de forma tão patente. Em Machado, a questão do negro e dos desafios oriundos da escravidão aparecem nas "Memórias Póstumas" (a questão de Prudêncio, por exemplo), mas não como ponto central de crítica. 



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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