(FUVEST - 2008 - 1ª FASE)
Meses depois fui para o seminário de S. José. Se eu pudesse contar as lágrimas que chorei na véspera e na manhã, somaria mais que todas as vertidas desde Adão e Eva. Há nisto alguma exageração; mas é bom ser enfático, uma ou outra vez, para compensar este escrúpulo de exatidão que me aflige.
Machado de Assis, Dom Casmurro.
Considerando-se o contexto desse romance de Machado de Assis, pode-se afirmar corretamente que, no trecho acima, ao comentar o próprio estilo, o narrador procura
afiançar a credibilidade do ponto de vista que lhe interessa sustentar.
provocar o leitor, ao declará-lo incapaz de compreender o enredo do livro.
demonstrar que os assuntos do livro são mero pretexto para a prática da metalinguagem.
revelar sua adesão aos padrões literários estabelecidos pelo Romantismo.
conferir autoridade à narrativa, ao basear sua argumentação na História Sagrada.
Gabarito:
afiançar a credibilidade do ponto de vista que lhe interessa sustentar.
A) CORRETA: no momento em que é dito "Há nisto alguma exageração; mas é bom ser enfático", é perceptível que o autor deseja, com esses dizeres, apontar que todo esse exagero que ele fez tem um intuito muito importante para que o livro impacte seu leitor da forma como o autor o deseja. Dessa forma, ele mostra que aquilo que foi dito não está ali atoa, mas que suas colocações são válidas de crédito, assim como a imagem do autor deve ter alguma credibilidade.
B) INCORRETA: não se pode dizer que o autor quis provocar o seu leitor, porque Machado está refletindo o exagero que ele colocou lá como um modo de compensação ao que ele sente.
C) INCORRETA: principalmente em Brás Cubas, o autor não quer descaracterizar o assunto que está sendo narrado do livro. Na verdade, ele quer aliar o assunto que está sendo dito (a história da sua vida) juntamente com um método de escrita (um defundo escrevendo suas memórias póstumas).
D) INCORRETA: Machado, pelo conhecimento literário que se tem, não é adepto aos padrões literários expressos pelo Romantismo, mas sim ele expõe as situações da forma como ela são: a morte, por mais podre que ela seja, ele aponta todos os seus detalhes.
E) INCORRETA: ao falar do Seminário de São José, o autor não deseja que isso seja uma forma de credibilidade à sua narrativa, tanto que logo depois se fala do modo como Brás Cubas foi para o seminário (com lágrimas incontáveis na noite anterior e na manhã). A História Sagrada, por outro lado, é aquela que pela própria linguagem é cheia de metáforas e uma linguagem mais sublime, algo que não pode ser visto nesse texto de Machado, além de que o foco da História Sagrada está na vida de Cristo, e não dos seus sacerdotes (representados pela imagem do Seminário)
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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