Questão 47317

(FUVEST - 2017 - 2ª fase)

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

[...]

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias, Primeiros cantos

 

Canto do regresso à pátria

Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas

E quase que mais amores

Minha terra tem mais ouro

Minha terra tem mais terra

[...]

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte pra São Paulo

Sem que veja a Rua 15

E o progresso de São Paulo.

Oswald de Andrade, PauBrasil

 

a) Considerando que os poemas foram escritos, respectivamente, em 1843 e 1924, caracterize seus contextos históricos sob os pontos de vista político e social.

b) Comparando os dois poemas, indique uma diferença estética e uma diferença ideológica entre ambos.

Gabarito:

Resolução:

Um dos momentos retratado foi o fim do Período Regencial, momento intermediário entre o Primeiro Reinado e o Segundo Reinado. A sociedade era escravista e tinha como ponto central o comércio de escravos no Atlântico. Que irá impactar nas articulações partidárias e nas relações sociais. Nesse período o império ficava sob comando de regentes e durou até 1840, quando houve um golpe parlamentar para antecipar a maioridade de Dom Pedro II, intitulado Golpe da Maioridade. D. Pedro II assumiu o poder, mantendo toda a estrutura sócio-econômica colonial e, por isso, contou com amplo apoio das elites, e assim acabou permanecendo à frente do poder por 49 anos.

O Segundo Reinado, período do governo imperial brasileiro, foi marcado por essas permanências e forte conservadorismo político, mas também por mudanças sociais. Assim sendo, o período em questão foi de grandes mudanças para a sociedade brasileira e de instabilidade.

O final do Período Regencial foi marcado por revoltas como Cabanagem, Balaiada, Sabinada, Guerra dos Farrapos, entre outras manifestações.O descontentamento político e social da população explodiu em revoltas e a saída foi novamente o reforço da centralização política, a elite agrária viu a Monarquia como melhor condutora de um projeto que garantisse avanços econômicos, mas sem alterar as estruturas sociais do país. 

As discussões ocorridas no final do Período Regencial foram importantes para entendermos as origens das disputas pelo poder que se desenrolaram posteriormente. Estas disputas teriam contornos mais nítidos nos primeiros anos do Segundo Reinado, nos conflitos políticos que geraram as revoltas liberais em 1842. Esse contexto foi marcado por redefinições políticas e cisões que geraram dois grupos políticos distintos e que no Segundo Reinado dominaram a cena política e revezaram no poder, os conservadores e liberais.

Esse quadro caótico socialmente e de instabilidade econômica foi herdado em grande parte da preservação de certas estruturas coloniais, bem como da instabilidade do período regencial.

Nesse mesmo período se constituía a formação do Estado nacional brasileiro e Gonçalves Dias, estava inserido nesse contexto e se somou ao próprio projeto de construção do ideal de nação brasileira. Tendo em mente esse projeto vitorioso, podemos notar que Gonçalves Dias era o modelo de brasileiro que servia bem ao modelo de nação que se criava. Mestiço, filho de pai português e mãe cafuza, representando em sua poesia a natureza que o cercava e que dava ao Império do Brasil a sua cor local, o poeta serviu como instrumento de divulgação do que deveria ser conhecido como brasileiro.

Sem dúvida podemos afirmar que Gonçalves Dias era o poeta nacional. Sua identidade foi criada ao mesmo tempo em que se forjava a identidade nacional. Ele é uma das muitas chaves para entendermos os processos de criação daquilo que chamamos identidade brasileira

Já em 1924, a sociedade brasileira se caracterizava basicamente pela vigência de uma economia agroexportadora, fornecedora de produtos primários para os países capitalistas centrais. Nesse contexto político temos os reflexos na arte moderna, com várias conexões entre o meio artístico e os debates ideológicos vigentes. A Semana de Arte Moderna havia ocorrido em 1922, e uma figura marcante desse movimento modernista foi Oswald de Andrade.

Em paralelo a esse movimento temos a história do tenentismo, que foi um movimento político-militar que se desenvolveu durante o período de 1920 a 1935, sob a liderança dos “tenentes”, em sua grande maioria oficiais de baixa patente. Constituiu um dos principais agentes históricos responsáveis pelo colapso da Primeira República, ou seja, está inserido no processo de crise da sociedade agroexportadora e do Estado oligárquico no Brasil que culminou com a Revolução de 1930.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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