(FUVEST - 2021 - 1ª FASE)
I
- Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.
(...)
Sabes o que tu és, afinal, Sem Medo? És um ciumento. Chego a pensar se não és homossexual. Tu queria-mes só, como tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada sucesso que eu tiver, será a paga da tua bofetada, pois não serei um falhado como tu.
Pepetela, Mayombe. Adaptado.
II
- Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um imbecil. E quis igualar o inigualável.
Pepetela, Mayombe.
Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre as personagens Comissário e Sem Medo em momentos distintos do romance. Em I e II, as falas do Comissário revelam, respectivamente,
incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por pertencerem a linhagens diferentes, e superação de sua hostilidade tribal.
decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu favor na conversa com Ondina, e desespero diante do companheiro baleado.
suspeira de traição de Ondina e tomada de consciência de que isso não passara de uma crise de ciúmes dele.
forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e aceitação da verdade da orientação sexual do companheiro.
ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa que o atinge ao perceber que sua demonstração de coragem colocara o companheiro em risco.
Gabarito:
decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu favor na conversa com Ondina, e desespero diante do companheiro baleado.
a) INCORRETA, já que o Comissário não menciona a etnia, mas antes questiona se Sem Medo é homossexual, algo referente à opção sexual do homem.
b) CORRETA, já que a primeira fala do Comissário é uma acusação a Sem Medo, uma acusação de traição, que está inserida no contexto da conversa com Ondina. Na segunda fala, ele está pedindo perdão ao companheiro, em um contexto do livro onde este foi baleado e está morrendo. A alternativa correta parte do conceito de Romance de Formação que pode ser observado ao longo de toda a análise do comportamento do personagem João Comissário. Durante todo o romance, o leitor percebe suas fragilidades, seu amadurecimento e também as habilidades desenvolvidas sempre em espelhamento de caráter ao seu capitão Sem Medo (por isso, o personagem ora o trata de maneira arrogante, ora lhe pede perdão, pois é atravessado pela formação do seu caráter até o momento em que Sem Medo falece e o Comissário passa a ocupar o lugar daquele com quem aprendeu sobre a guerra).
c) INCORRETA, já que o Comissário fala com Sem Medo, não com Ondina.
d) INCORRETA, pois no primeiro trecho o Comissário questiona sobre a sexualidade de Sem Medo, dizendo em seguida que o desprezava, que não seria um “falhado” como ele, indicando o contrário de uma tensão homoafetiva.
e) INCORRETA, pois não são feitas menções diretas ao catolicismo dos homens no trecho.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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