Questão 60223

(FUVEST - 2021 - 2ª FASE)

Leia o poema e o excerto da crônica para responder à questão.

       IV. Hotel Toffolo

       E vieram dizer-nos que não havia jantar.
       Como se não houvesse outras fomes
       e outros alimentos.

       Como se a cidade não nos servisse o seu pão
5     de nuvens.

       Não, hoteleiro, nosso repasto é interior,
       e só pretendemos a mesa.
       Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.
       Tudo se come, tudo se comunica,
10   tudo, no coração, é ceia.

Carlos Drummond de Andrade, "Estampas de Vila Rica", de Claro Enigma.

 

(...) A população de Ouro Preto nutre convicções e paixões, como qualquer outra, mas cultiva-as in petto [no íntimo], com impecável benignidade de espírito, sem o menor azedume ou nojo pela paixão ou opinião contrária. Essas preferências diversas confraternizam, não raro, junto à mesa no Hotel Toffolo, e chega-se à conclusão de que política não vale positivamente uma boa cerveja.

Carlos Drummond de Andrade, "Contemplação de Ouro Preto", de Passeios na Ilha.

 

a) Que relação de sentido liga a imagem "pão de nuvens" (v. 4-5) ao verso "tudo, no coração, é ceia" (v. 10)? Justifique.

b) As atitudes dos dois grupos à mesa do Hotel Toffolo, no poema e na crônica, são equivalentes? Explique.

Gabarito:

Resolução:

a) O verso “tudo, no coração, é ceia” sintetiza a mensagem do poema acerca de uma “alimentação” metafísica, o “repasto interior”. O eu lírico de Drummond, nesse poema, satisfaz outro tipos de fome, de ordem espiritual e, nesse sentido, a expressão “pão de nuvens” adquire potência: o alimento básico é elevado ao plano celeste, etéreo e rarefeito da atmosfera, que a cidade oferece à alma, ao coração do poeta como ceia. A imagem, portanto, reflete a experiência de uma ceia subjetiva e imaterial sintetizada no verso final.

b) As posturas dos grupos revelados nos textos de Drummond pode ser considerada equivalente, na medida de seu apreço pela comunhão. No poema, “tudo se come, tudo se comunica”, e “tudo, no coração” é ceia, ou seja, o mais importante não é o que está na superfície (o “jantar”), e sim o próprio gesto agregador de espíritos e pensamentos a que a mesa convida, gesto esse de grande partilha. Na cena da crônica, observa-se a mesma constituição do grupo: as “preferências diversas” que confraternizam revelam que o interessa maior não é alimentar disputas ideológicas, de aparência, mas sim vivenciar trocas também de espírito — um traço que os ouropretanos levam, segundo o cronista, in petto, no seu íntimo.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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