(FUVEST - 2022 - 2ª fase)
O que me espanta não é a traição que dá na vista, não é a tolice que brilha em público: é a decência que se mantém, é a dignidade que se preserva, é a honradez que se resguarda, é o sacrifício obscuro e quotidiano que se continua. Eu lhe digo, porque tenho vivido em muitos cantos do Brasil e mexido com muita gente — eu posso lhe dizer que, entre milhares de homens tão diferentes de caráter e mesmo de idéias, sempre se tem conservado, através de todas as tribulações e contingências, um patrimônio comum. E você, Graciliano Ramos, faz parte deste nosso patrimônio.
O que senti vontade de lhe dizer hoje, e fica dito agora, é o seguinte: que tanto quanto eu, há milhares de pessoas no Brasil que não estão presentes ao banquete mas que desejam que você fique sabendo que estão ao seu lado. Conte conosco, não apenas na hora de comer e de beber, como também na hora de ter ódio de Julião Tavares, de lutar contra Julião Tavares — e de matar Julião Tavares.
Rubem Braga — “Discurso de um ausente”, mensagem do cronista a seu amigo Graciliano Ramos por ocasião do jantar em homenagem aos cinquenta anos do autor de Angústia.
a) Como os valores éticos descritos por Rubem Braga constituem a resistência (e logo a tensão) que forma o ponto de vista em Angústia?
b) Caracterize o perfil de Julião Tavares, de modo a explicar por que o cronista o considera um inimigo do “patrimônio” comum.
Gabarito:
Resolução:
a) Pela leitura da correspondência de Rubem Braga, entende-se que o autor tece uma posição contrária às atitudes de Julião Tavares, mesmo que o personagem tenha sido assassinado, porque o fato de Julião ter feito tudo de ruim (arrogante, traição, tolice, etc), manter a decência e a dignidade nesse caso é significado de mau-caratismo. Logo, em uma sociedade que considera que o assassino deve ser culpado em todos os casos, os valores de Braga representam a resistência a esse posicionamento, pelas razões descritas acima.
b) Julião Tavares é descrito como um sujeito rico, eufórico, eloquente, com aspirações literárias e um ar de superioridade. Como Luís, protagonista do romance, é um sujeito simples, ele acredita que Julião não tem os atributos necessários para ser um homem decente e digno por ser quem ele é, ainda mais depois de ter traído Marina. Logo, enquanto Luís faz parte do patrimônio comum (por ir atrás de sua amada e por fazer de tudo para protegê-la, como matar Julião), o Tavares é justamente o oposto desse patrimônio, por romper relacionamentos e ainda assim se achar um homem honrado.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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