(FUVEST- 2022 - 2ª fase)
A crise atual no mundo - no Oriente Médio, em Israel e na Palestina - não diz respeito aos valores do Islã. Não diz respeito, de jeito algum, à mentalidade dos árabes, como querem alguns racistas. Diz respeito à lita antiga entre fanatismo e pragmatismo. Entre fanatismo e pluralismo. Entre fanatismo e tolerância. O 11 de setembro não tem a ver nem mesmo com a questão de se a América é boa ou má, se o capitalismo é ameaçador ou transparente, se a globalização deveria cessar ou não. Diz respeito, isto sim, à reivindicação típica dos fanáticos: se julgo algo mau, elimino-o, junto com seus vizinhos. (...) Minha própria infância em Jerusalém tornou-me um especialista em fanatismo comparado. Jerusalém da minha infância, lá pelos idos dos anos 1940, era cheia de profetas espontâneos, Redentores e Messias. Mesmo atualmente, cada um dos jerosolimitanos tem sua fórmula pessoal de salvação instantânea. Todos dizem que vieram a Jerusalém - e aqui cito uma frase famosa de uma velha canção - para construí-la e para serem construídos por ela. De fato, alguns deles e algumas delas, judeus, cristãos e muçulmanos, realmente vieram a Jerusalém não tanto para construí-la, para serem construídos por ela, mas antes para serem crucificados, ou para crucificar outros, ou ambas as coisas. Há um transtorno mental reconhecido, uma doença mental designada "síndrome de Jerusalém": as pessoas vão para Jerusalém, inalam o maravilhoso ar transparente da montanha e, em seguida, repentinamente, inflamam-se e pões fogo numa mesquita, numa igreja ou sinagoga. Ou, de outra forma, tiram as roupas, sobem numa pedra e começam a profetizar. Ninguém escuta, Jamais.
Amós Oz. Contra o fanatismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
a) Como a "síndrome de Jerusalém" pode ser relacionada à "reivindicação típica dos fanaticos"?
b) As duas ocorrências da palavra "transparente" apresentam o mesmo sentido no texto? Justifique
Gabarito:
Resolução:
a) A “síndrome de Jerusalém” e a “reivindicação típica dos fanáticos” são, no limite, dois nomes para o mesmo fenômeno: o extremismo, relacionado ao extermino do “outro”, ligado às religiões. A primeira está sendo caracterizada como a transformação que acontece nas pessoas que chegam à cidade moderadas, mas se transformam em extremistas exterminadores, que põem fogo em templos. A segunda está relacionada ao mesmo fenômeno, como dito no texto: “se julgo algo mau, elimino-o”. Por isso, as duas formas podem ser comparadas no sentido de serem semelhantes, apesar de a “síndrome” ser algo relacionado à cidade em si e a “revindicação” fazer referência aos eventos de 11 de setembro.
b) As duas ocorrências não possuem o mesmo sentido. No primeiro uso do termo “transparente” o sentido é figurado, indicando de algo que é verdadeiro, que não possui uma face escondida, que é íntegro naquilo que diz ser, que é claro. Já o segundo uso do termo está relacionado ao seu sentido denotativo, sendo um adjetivo que caracteriza o ar de Jerusalém, um ar límpido, sem grandes poluições, que permeia as montanhas sagradas de Jerusalém.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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