(FUVEST - 2023)
Leia o poema e responda à questão:
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, | |
Da vossa alta clemência me despido; | |
Porque, quanto mais tenho delinquido, | |
Vos tenho a perdoar mais empenhado. | |
Se basta a vos irar tanto pecado, | |
A abrandar-vos sobeja um só gemido: | |
Que a mesma culpa, que vos há ofendido, | |
Vos tem para o perdão lisonjeado. | |
Se uma ovelha perdida e já cobrada, | |
Glória tal e prazer tão repentino | |
Vos deu, como afirmais na sacra história, | |
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, | |
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, | |
Perder na vossa ovelha a vossa glória. | |
Gregório de Matos |
Neste conhecido soneto de Gregório de Matos, o eu lírico, visando ao convencimento de seu interlocutor, se vale de um rebaixamento retórico com relação a Deus.
a) Para qual atributo divino o eu lírico apela nos quartetos? Justifique, com base no texto, a sua resposta.
b) Ao se dirigir a Deus, o argumento do qual o eu lírico lança mão se apresenta em forma de silogismo, ou seja, um raciocínio estruturado a partir de duas premissas, com base nas quais se deduz uma conclusão. Na folha de respostas, descreva, com as suas palavras, as premissas e a conclusão presentes nos tercetos do poema.
Gabarito:
Resolução:
A) O eu lírico apela para a bondade divina. Ele confessa ter pecado, o que não significa que tenha abandonado a crença na indulgência divina, na sua alta capacidade de “clemência”. Pelo contrário, quanto mais comete faltas, mais se esforça para ser perdoado. Se são necessários muitos pecados para provocar a cólera de Deus, bastará, segundo o sagaz eu lírico, um só “gemido”, um único pedido, para acalmá-lo.
B) Há uma espécie de falso rebaixamento, ou de rebaixamento retórico, do eu lírico com relação a Deus. Em sua argumentação, o eu lírico se dispõe a aconselhá-Lo: caberá a Deus recuperar as ovelhas desgarradas para não perder a sua “glória”. Ou seja, a alta reputação de bom “pastor” depende da capacidade de perdoar. As faltas do pecador engrandecem o Senhor. Desse modo, o eu lírico obteria vantagem para si, convertendo-a, no plano discursivo, em benefício para Deus. Isto posto, a resposta deve ser apresentada do seguinte modo:
Primeira Premissa:
Se recuperar uma ovelha desgarrada deu glória ao Senhor
Segunda Premissa:
E se eu sou uma ovelha desgarrada
Conclusão:
Logo, salvai-me para que não percais a vossa glória.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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