(FUVEST - 2010 - 1ª FASE)
(...) É uma bela moça, mas uma bruta... Não há ali mais poesia, nem mais sensibilidade, nem mesmo mais beleza do que numa linda vaca turina. Merece o seu nome de Ana Vaqueira. Trabalha bem, digere bem, concebe bem. Para isso a fez a Natureza, assim sã e rija; e ela cumpre. O marido todavia não parece contente, porque a desanca. Também é um belo bruto... Não, meu filho, a serra é maravilhosa e muito grato lhe estou... Mas temos aqui a fêmea em toda a sua animalidade e o macho em todo o seu egoísmo...
Eça de Queirós, A cidade e as serras.
Neste excerto, o julgamento expresso por Jacinto, ao falar de um casal que o serve em sua quinta de Tormes, manifesta um ponto de vista semelhante ao do
Major Vidigal, de Memórias de um sargento de milícias, ao se referir aos desocupados cariocas do tempo do rei.
narrador de Iracema, em particular quando se refere a tribos inimigas e a franceses.
narrador de Vidas secas, principalmente quando ele enfoca as relações sexuais de Fabiano e Sinha Vitória.
Anjo, do Auto da barca do inferno, ao condenar os pecados da carne cometidos pelos humanos.
narrador de O cortiço, especialmente quando se refere a personagens de classes sociais inferiores.
Gabarito:
narrador de O cortiço, especialmente quando se refere a personagens de classes sociais inferiores.
A) INCORRETA: pois na referência de Major Vidigal não podemos perceber a mesma manifestação expressa por Jacinto, ou seja, uma animalização das pessoas e das situações, algo que não é próprio dessa obra.
B) INCORRETA: pois em Iracema, ao se referir às tribos inimigas e francesas, não vemos uma animalização dessas pessoas como é expresso no julgamento de Jacinto, mas a animalização (ainda que em níveis diferentes) é realizada no início da obra e para outros destinos.
C) INCORRETA: em Vidas Secas, não é muito forte a tópica da animalização, ou seja, observar as ações das personagens e a partir daí modificá-las para algo mais animalesco, mas o que é mostrado na obra é apenas a realidade do sertão.
D) INCORRETA: quando se condena os pecados em Auto da Barca do Inferno, essa condenação não é feita de modo animalesco da mesma forma que o julgamento de Jacinto expressa. Por essa razão, não vemos similaridades nesse quesito entre as duas obras.
E) CORRETA: aqui é possível observar como o narrador caracteriza as pessoas, atribuindo-lhes características um tanto pejorativas e também animalescas, assim como no trecho de A Cidade e as Serras.
A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo. Tinha duas filhas, uma casada e separada do marido, Ana das Dores, a quem só chamavam a “das Dores” e outra donzela ainda, a Nenen, e mais um filho, o Agostinho, menino levado dos diabos, que gritava tanto ou melhor que a mãe. A das Dores morava em sua casinha à parte, mas toda a família habitava no cortiço.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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