Questão 36456

(FUVEST 2015 - 2 fase) Limite inferior

Aprendi muito com o economista-filósofo Roberto de Oliveira Campos, particularmente quando tive a honra e a oportunidade de conviver com ele durante anos na Câmara dos Deputados. Sentávamos juntos e assistíamos aos mesmos discursos, alguns muito bons e sábios. Frequentemente, diante de alguns incontroláveis colegas que exerciam uma oratória de alta visibilidade, com os dois braços agitados tentando encontrar uma ideia, Roberto me surpreendia com a afirmação: “Delfim, acabo de demonstrar um teorema”. E sacava uma mordaz conclusão crítica contra o incauto orador. Um belo dia, um falante e conhecido deputado ensurdeceu o plenário com uma gritaria que entupiu os ouvidos dos colegas. A quantidade de sandices ditas no longo discurso com o ar de quem estava inventando o mundo fez Roberto reagir com incontida indignação. Soltou de supetão: “Delfim, construí um axioma, uma afirmação preliminar que deve ser aceita pela fé, sem exigir prova: a ignorância não tem limite inferior”. E completou, com a perversidade de sua imensa inteligência: “Com ele poderemos construir mundos maravilhosos”.

Antonio Delfim Netto, Folha de S. Paulo, 17/09/2014. Adaptado

 

a) Explique por que o axioma formulado por Roberto de Oliveira Campos tornaria possível “construir mundos maravilhosos”.

b) Identifique o trecho do texto que explica o emprego da expressão “oratória de alta visibilidade”.

Gabarito:

Resolução:

a) O axioma criado por Roberto de Oliveira Campos, "a ignorância não tem limite inferior", permite concluir sua ironia acerca dos "mundos maravilhosos" que, a partir disso, são possíveis de construir. Ao aceitar que a ignorância é ilimitada, e é sempre possível superar os disparates e "abaixar o nível", o filósofo conclui que há também fonte ilimitada para a crítica e o escárnio, e que, "com o ar de quem estava inventando o mundo" criam-se realidades absurdas, ironicamente "maravilhosas". 

b) A expressão "oratória de alta visibilidade" alude, novamente de forma irônica, à linguagem corporal dos "incontroláveis" deputados, revelada no trecho "com os dois braços agitados tentando encontrar uma ideia". 



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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