Questão 2366

(FUVEST - 2015) 

E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.

Aluísio Azevedo, O cortiço.

Em que pese a oposição programática do Naturalismo ao Romantismo, verifica-se no excerto – e na obra a que pertence – a presença de uma linha de continuidade entre o movimento romântico e a corrente naturalista brasileira, a saber, a: 

A

exaltação patriótica da mistura de raças.

B

necessidade de autodefinição nacional.

C

aversão ao cientificismo.

D

recusa dos modelos literários estrangeiros.

E

idealização das relações amorosas.

Gabarito:

necessidade de autodefinição nacional.



Resolução:

A) Alternativa incorreta. Nem o romance naturalista nem a escola romântica exaltam essa característica. O primeiro aborda a miscigenação como um fator científico do determinismo social no Brasil, e a segunda busca um ufanismo através da ideia de uma raça pura e original ("o bom selvagem" alencariano) ou de outros aspectos, como a natureza e a riqueza da pátria. 

B) Alternativa correta​​​​​​​. O cortiço é um romance de Aluísio Azevedo, escrito no período do naturalismo. Contudo, pensar em caixas totalmente fechadas não é possível, por isso, podemos identificar características do movimento que o antecede - o romantismo - já que não é possível enxergar uma ruptura abruta de um período ao outro. Como se revela em "O Cortiço" através do dilema da personagem de Jerônimo, o pertencimento à nação, tema essencial na produção romântica (principalmente na 1ª geração), é uma tópica também para o movimento naturalista. 

C) Alternativa incorreta​​​​​​​. O cientificismo não estava, de fato, presente no romantismo, mas é um dos pontos centrais da estética e do pensamento naturalista, revelado na prosa azevediana. 

D) Alternativa incorreta​​​​​​​. Tanto o romantismo como o naturalismo recorrem a modelos estrangeiros para tratar da realidade brasileira. Eram formas de poesia e prosa vindas da europa, mas modificadas em suas temáticas para adequar-se, em alguns casos, ao contexto nacional. 

E) Alternativa incorreta​​​​​​​. As relações românticas não eram idealizadas no naturalismo. Esse é um atributo da corrente estética romântica. 



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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