(FUVEST - 2017 - 2ª fase)
Leia o trecho do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Sagarana, de João Guimarães Rosa, para responder ao que se pede.
E aí o povo encheu a rua, à distância, para ver. Porque não havia mais balas, e seu Joãozinho Bem-Bem mais o Homem do Jumento tinham rodado cá para fora da casa, só em sangue e em molambos de roupas pendentes. E eles negaceavam e pulavam, numa dança ligeira, de sorriso na boca e de faca na mão.
- Se entregue, mano velho, que eu não quero lhe matar...
- Joga a faca fora, dá viva a Deus, e corre, seu Joãozinho Bem-Bem..
- Mano velho! Agora é que tu vai dizer: quantos palmos é que tem, do calcanhar ao cotovelo!...
- Se arrepende dos pecados, que senão vai sem contrição, e vai direitinho pra o inferno, meu parente seu Joãozinho Bem-Bem!...
- Úi, estou morto...
a) Nesse trecho, em que se narra a luta entre Nhô Augusto e seu Joãozinho Bem-Bem, os combatentes, ao mesmo tempo em que se agridem, dispensam, um ao outro, um tratamento que demonstra estima e consideração. No âmbito dos valores que são postos em jogo no conto, como se explica esse tratamento?
b) No trecho, Nhô Augusto é designado como “o Homem do Jumento”. Considerando-se essa designação no intertexto religioso, muito presente no conto, como se pode interpretá-la? Justifique sua resposta.
Gabarito:
Resolução:
a) A relação contraditória se deve ao enredo turbulento das duas personagens. Joãozinho Bem-Bem conserva gratidão por Nhô Augusto, devido ao episódio em que este ofereceu àquele e seu bando uma refeição no vilarejo do Tombador. O ódio, por outro lado, decorre do evento em que Augusto Matraga impede uma vingança do jagunço contra o assassino de um membro do bando, o que feriu sua honra. Essa tensão conduz à grande briga em que Nhô Augusto se redime, mata o oponente e morre - pondo fim ao conflito do conto.
b) A designação de Nhô Augusto como "Homem do Jumento" alude à sua entrada no povoado do Tombador e alude diretamente à passagem bíblica do Domingo de Ramos, em que Jesus Cristo chega a Jesrusalém da mesma maneira. No contexto religioso, o episódio antecipa o martírio do Messias, assim como no conto a alcunha de Augusto Matraga antecipa sua história de heroísmo e morte. A atribuição desse nome estabelece um paralelo crítico entre a figura de Jesus e a do protgonista rosiano.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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