Questão 37530

(FUVEST - 2019 - 2ª fase)

Considere os seguintes trechos do romance A Relíquia.

I. E agora, para que cada um esteja prevenido e possa fazer as orações que mais lhe calharem, devo dizer o que é a relíquia... (...)

Esmagada, com um rouco gemido, a Titi aluiu* sobre o caixote, enlaçando-o nos braços trêmulos... Mas o Margaride coçava pensativamente o queixo austero, Justino sumira-se na profundidade dos seus colarinhos, e o ladino** Negrão escancarava para mim uma bocaça negra, de onde saía assombro e indignação!

*desabou; ** espertalhão.

II. (...) a Titi tomou o embrulho, fez mesura aos santos, colocou-o sobre o altar, devotamente desatou o nó do nastro* vermelho; depois, com o cuidado de quem teme magoar um corpo divino, foi desfazendo uma a uma as dobras do papel pardo... Uma brancura de linho apareceu...

*fita

III. As relíquias eram valores! Tinham a qualidade onipotente de valores!

Eça de Queirós, A Relíquia.

 

a) As passagens acima são revelações de diferentes objetos, todos eles contemplados no romance como relíquias. Explicite a que objetos cada um dos trechos se refere.

b) No último parágrafo do romance, Teodorico reflete: “... houve um momento em que me faltou esse descarado heroísmo de afirmar, que, batendo na terra com pé forte, ou palidamente elevando os olhos ao céu – cria, através da universal ilusão, ciências e religiões”. Qual dos três excertos melhor se aplica à reflexão de Teodorico? Justifique

Gabarito:

Resolução:

Resolução:
a) Os objetos a que cada um dos trechos referem-se são:
Trecho I -  A coroa de espinhos. Uma coroa feita por Teodorico a partir de partes de um arbusto espinhoso que encontrou durante sua viagem à Terra Santa.

Trecho II - A camisola de Mary. Um presente doado por uma das amantes de Teodorico, que foi entregue por engano à Titi, depois de uma troca de pacotes durante a viagem.

Trecho III - Um frasco de água do Rio Jordão, rio este considerado santo por ser o local onde João Batista batizou Jesus Cristo, segundo a religião católica. O frasco com água do Jordão, assim como outras “relíquias” eram vendidos nos locais turísticos na Terra Santa.

b)  A reflexão de Teodorico pode ser relacionada ao trecho III, no qual as relíquias, consideradas assim por serem sagradas, são vendidas, comercializadas, ainda que sejam consideradas relíquias. O comércio desse tipo de objeto na região visitada por Teodorico aparece de forma comum na narrativa, demonstrando que o que as tornam relíquias é a convicção usada para afirmar o sagrado presente em cada objeto. Os objetos não são relíquias, realmente. Mas, são vendidas como tal justamente pela afirmação descarada que “cria universal ilusão”, assim como as ciências e as religiões, que são criadas a partir de convicções e afirmações feitas, tornando-as verdadeiras. Eça de Queirós constrói um diálogo entre a verdade e a ficção durante toda a narrativa, confirmada por sua célebre frase : “Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia”.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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