Questão 35326

(FUVEST - 2019 - 1ª FASE)

TEXTOS PARA A QUESTÃO:
 
Sonetilho do falso Fernando Pessoa

Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.  
E das peles que visto  
muitas há que não vi

Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto  
de tudo quanto é misto  
e que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,  
à deusa que se ri  
deste nosso oaristo*,  

eis‐me a dizer: assisto  
além, nenhum, aqui,  
mas não sou eu, nem isto.

Carlos Drummond de Andrade.  Claro Enigma.  

Ulisses

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus  
É um mito brilhante e mudo ‐  
O corpo morto de Deus,  
Vivo e desnudo.  

Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.  
Por não ter vindo foi vindo  
E nos criou.  

Assim a lenda se escorre  
A entrar na realidade,  
E a fecundá‐la decorre.  
Em baixo, a vida, metade
 De nada, morre.

Fernando Pessoa. Mensagem

Considerando os poemas, assinale a alternativa correta.

A

As noções de que a identidade do poeta independe de sua  existência biográfica, no “Sonetilho”, e de que o mito se  perpetua para além da vida, em “Ulisses”, produzem uma  analogia entre os poemas.

B

As  referências  a  Mefisto  (“diabo”,  na  lenda  alemã  de  Fausto)  e  a  Deus  no  “Sonetilho”  e  em  “Ulisses”,  respectivamente, associadas ao polo de opostos “morte” e  “vida”, revelam uma perspectiva cristã comum aos poemas.

C

O resgate da forma clássica, no “Sonetilho”, e a referência à  primeira  pessoa  do  plural,  em  “Ulisses”,  denotam  um  mesmo espírito agregador e comunitário.

D

O eu lírico de cada poema se identifica, respectivamente,  com seus títulos. No poema de Drummond, trata‐se de  alguém  referido  como  “falso  Fernando  Pessoa”,  já  no  poema de Pessoa, o eu lírico é “Ulisses”.

E

Os versos “As coisas tangíveis / tornam‐se insensíveis / à  palma da mão. // Mas as coisas findas, / muito mais que  lindas, / essas ficarão”, de outro poema de Claro Enigma,  sugerem uma relação de contraste com os poemas citados.

Gabarito:

As noções de que a identidade do poeta independe de sua  existência biográfica, no “Sonetilho”, e de que o mito se  perpetua para além da vida, em “Ulisses”, produzem uma  analogia entre os poemas.



Resolução:

A afirmativa A “As noções de que a identidade do poeta independe de sua existência biográfica, no “Sonetilho”, e de que o mito se perpetua para além da vida, em “Ulisses”, produzem uma analogia entre os poemas.” é a alternativa correta, pois no primeiro poema”Sonetilho do falso Fernando Pessoa”, de Carlos Drummond, não há de forma explícita e clara a relação existente entre a identidade e a existência de sua biografia, que pode ser percebida no seguinte fragmento”Onde nasci, morri. Onde morri, existo. E das peles que visto muitas há que não vi.” ( é claro a presença de sua identidade, porém não focando de forma evidente a sua biografia). Já em “Ulisses”, de Fernando Pessoa, é perceptível a temática do o mito se perpetua para além da vida, percebida no seguinte fragmento “O mito é o nada que é tudo. O mesmo sol que abre os céus É um mito brilhante e mudo ‐  O corpo morto de Deus, Vivo e desnudo.” A analogia encontra-se diante da questão da ausência e presença da identidade do autor ( primeiro poema) e do mito (segundo poema).



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Questão 1794

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Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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