Questão 37535

REDAÇÃO

Leia os textos para fazer sua redação.

         O progresso, longe de consistir em mudança, depende da capacidade de retenção. Quando a mudança é absoluta, não permanece coisa alguma a ser melhorada e nenhuma direção é estabelecida para um possível aperfeiçoamento; e quando a experiência não é retida, a infância é perpétua.

George Santayana, A vida da razão, 1905, Vol. I, Cap. XII. Adaptado

O Historiador


Veio para ressuscitar o tempo
e escalpelar os mortos,
as condecorações, as liturgias, as espadas,
o espectro das fazendas submergidas,
o muro de pedra entre membros da família,
o ardido queixume das solteironas,
os negócios de trapaça, as ilusões jamais confirmadas
nem desfeitas.
Veio para contar
o que não faz jus a ser glorificado
e se deposita, grânulo,
no poço vazio da memória.
É importuno,
sabe-se importuno e insiste,
rancoroso, fiel 

Carlos Drummond de Andrade, A paixão medida, 1981.

Flávio Cerqueira, Amnésia, 2015.

Essa escultura de um
garoto negro foi esculpida
no tamanho real de uma
criança, com seus cabelos
crespos, seu nariz largo,
sua boca marcada. A
criança segura uma lata
por sobre sua cabeça, de
onde escorre uma tinta
branca sobre seu corpo
feito de bronze.

Nexo Jornal, 13/07/2018

 

         A minha vontade, com a raiva que todos estamos sentindo, é deixar aquela ruína [o Museu Nacional depois do incêndio] como memento mori, como memória dos mortos, das coisas mortas, dos povos mortos, dos arquivos mortos, destruídos nesse incêndio. Eu não construiria nada naquele lugar. E, sobretudo, não tentaria esconder, apagar esse evento, fingindo que nada aconteceu e tentando colocar ali um prédio moderno, um museu digital, um museu da Internet – não duvido nada que surjam com essa ideia. Gostaria que aquilo permanecesse em cinzas, em ruínas, apenas com a fachada de pé, para que todos vissem e se lembrassem. Um memorial.

Eduardo Viveiros de Castro, Público.pt, 04/09/2018.

         Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo.

Walter Benjamin, Sobre o conceito de história,1940.

Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema: De que maneira o passado contribui para a compreensão do presente?

 

Instruções:
- A dissertação deve ser redigida de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
- Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível e não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha de redação.
- Dê um título a sua redação.

Gabarito:

Resolução:

O candidato deveria expor o próprio ponto de vista sobre a seguinte questão: “De que maneira o passado contribui para a compreensão do presente?” Foram oferecidos cinco textos que poderiam ser utilizados como base para reflexão.

No primeiro texto, de George Santayana, A vida da razão, questionava-se a capacidade de retenção de experiências e informações para maturidade do indivíduo e da sociedade.

O segundo texto, a poesia de Carlos Drummond de Andrade, explora o papel do historiador  que estuda as experiências humanas vividas ao longo do tempo.

No texto três, a escultura de Flávio Cerqueira, Amnésia, nos choca pela impressionante retratação do processo de embranquecimento do negro através do tempo.

O quarto texto de Eduardo Viveiros de Castro, relembra o incêndio do Museu Nacional,  e o quinto texto de Walter Benjamin, Sobre o conceito de história, fala da apropriação da essência do momento histórico e que cintila até hoje.

A redação privilegiou o candidato que tinha conhecimentos mais aprofundados de história e sociologia, articulando tais conhecimentos com seu repertório sociocultural.

A partir da análise dos textos da coletânea, os vestibulandos poderiam seguir alguns caminhos que reafirmassem o conhecimento da história como ferramenta para compreender o presente e, com ele, ser capaz de refletir sobre os êxitos que poderiam ser  repetidos e dos erros que poderiam ser evitados.

Para isso, o candidato deveria usar os conhecimentos advindos dos textos motivadores, desde que bem articulados e embasados, não configurando uma paráfrase, e de seu repertório sociocultural. O primeiro texto, assim como o segundo e o quinto, reforça a ideia de refletir sobre a importância da história e de como a apropriação dela pode ser munição para manejo das questões sociais. A escultura do menino negro pode suscitar questões relacionadas à problemática da escravidão e sobre como ela ainda repercute nos dias atuais, através da discriminação contra negros, que leva ao privilégio de brancos. Com isso, poderia-se articular a realidade racista de nossa sociedade com o conhecimento e reconhecimento do passado como uma ferramenta para a mudança dessas estruturas. O texto 5, sobre o incêndio do Museu Nacional, leva o candidato à reflexão sobre a negligência do Governo em divulgar e manter os registros históricos. Isso repercute na discussão sobre como a história influencia na formação de um sujeito crítico, o que nem sempre pode ser interesse dos governantes. A partir do que foi apresentado pela banca, o ideal seria que o candidato levantasse problemáticas relacionadas à escravidão e a formação do sujeito crítico guiadas pelo aprendizado dos fatos do passado.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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