(FUVEST - 2020 - 2ª fase)
— Que farás se eu continuar a andar?
— perguntou o Comissário.
— Das duas, uma: ou te prendo ou te acompanho. Estou indeciso. A primeira repugna-me, nem é justa. A segunda hipótese agradame muito mais, mas não avisei na Base nem trouxe o sacador.
(...)
— Nunca me prenderias!
— Achas que não? O Comissário deitou o cigarro fora.
— Que vais fazer a Dolisie, João? Pela primeira vez, Sem Medo chamara-o pelo nome.
Pepetela, Mayombe.
a) Identifique o evento diretamente relacionado à mudança de tratamento entre Comissário e Sem Medo.
b) “Sem Medo” não é um apelido aleatório. Justifique a afirmação com base em elementos do desfecho do romance.
Gabarito:
Resolução:
a) Em Mayombe, Pepetela utiliza de uma estratégia interessante acerca da nomeação de seus personagens. Praticamente, todos eles são tratados por uma espécie de codinome profissional, com a exceção de dois personagens: Ondina, por quem o Comissário é apaixonado, e André quem tem um caso com a moça. Quando o Comissário descobre este envolvimento, pede ajuda de Sem Medo para que consiga reconquistar o amor de Ondina, mas este o nega, abalando também a amizade entre os dois guerrilheiros. A mudança de tratamento entre Comissário e Sem Medo se dá justamente a partir desse episódio, quando o codinome não é mais o suficiente para manter a relação entre os dois personagens com certa passividade e o afeto amigável. O codinome juntamente ao nome, "Comissário João" é então evocado por Sem Medo pontuando, dentro do romance, o distanciamento necessário que passa a surgir no convívio dos dois personagens. Logo em seguida, Sem Medo também se envolve com Ondina, o que salienta outras problemáticas de caráter deste personagem, bem como promove o afastamento ainda maior entre ele e o Comissário.
b) Sem Medo é o personagem que mais transita diante da polifonia dos narradores do romance. Ora é apresentado em terceira pessoa, ora é ele mesmo mesmo se posiciona como narrador personagem. Sem Medo faz parte da tribo Kikongo e é um dos personagens mais politizados, doutrinados e engajados da narrativa, também por isso direciona um pouco de sua ideologia aos demais companheiros. No final do romance, Sem Medo morre, num ato de bravura em defesa de seus colegas, atingido no ventre de onde também vem as suas percepções psicológicas que antecipavam alguns combates e outras situações. Enterrado na floresta e ali decomposto entre as folhas e sementes, Sem Medo é, portanto, alegoria de um arquétipo maior colocado no romance que é a própria floresta, de onde surgirá a possibilidade de uma nova pátria angolana integrada ao homem. A trajetória desse guerrilheiro é sua inserção ao meio, que personifica o mito de Ogum – o Prometeu africano, assim mencionado no epílogo da obra. Como bem se sabe, nenhum personagem em Mayombe recebe um apelido ou codinome aleatório, Pepetela faz por meio desta justiça, via nomenclatura, um modo de dar ao personagem a seu próprio destino
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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