(FUVEST 2021 - 1ª fase)
Uma das folhas de ontem estampou (...) o programa da recepção presidencial em que, diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o Corta-jaca À altura de uma instituição social. Mas o Corta-jaca de que eu ouvira falar há muito tempo, que vem a ser ele, Sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do butuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o "Corta-jaca" é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade seria!
Discurso do senador Rui Barbosa, Diário do Congresso Nacional, 8/11/1914, p. 2789
A partir do texto, identifique a alternativa correta:
A crítica permite compreender que, apesar da mudança de regime político, as elites republicanas permaneceram adeptas da cultura cosmopolita e europeia.
O discurso elogia os esforços para compatibilizar a cultura republicana com as práticas de tradições dos grupos populares
A eclosão da Primeira Guerra Mundial contribuiu para a difusão de uma política cultural de caráter nacionalista e excludente.
O programa musical adotado na recepção revelava tendências modernistas ao conferir status de arte às danças populares.
A apresentação do maxixe Corta-jaca indicava uma resposta para contornar a xenofobia e eugenia presentes na cultura oficial.
Gabarito:
A crítica permite compreender que, apesar da mudança de regime político, as elites republicanas permaneceram adeptas da cultura cosmopolita e europeia.
a) A crítica permite compreender que, apesar da mudança de regime político, as elites republicanas permaneceram adeptas da cultura cosmopolita e europeia.
Correta. Observando o discurso do senador, nota-se a manutenção de hábitos que remontam aos moldes de civilização europeus, muito em voga no contexto do início do século XX em detrimento da difusão de ideias de cunho eugenista, como o Darwinismo Social. Nota-se que o Corta-Jaca foi um maxixe, ritmo popular da época, foi composto por Chiquinha Gonzaga. Essa música veio a ser executada em uma recepção presidencial por Nair de Teffé, esposa do marechal Hermes da Fonseca, que era presidente da República à época.
b) O discurso elogia os esforços para compatibilizar a cultura republicana com as práticas de tradições dos grupos populares.
Incorreta. O discurso argumenta o contrário: que a cultura popular seria nociva, não teria o mesmo prestígio de Wagner ou da cultura europeia em geral.
c) A eclosão da Primeira Guerra Mundial contribuiu para a difusão de uma política cultural de caráter nacionalista e excludente.
Incorreta. Esse tipo de política cultural é marcante no Brasil desde os primeiros momentos da colonização.
d) O programa musical adotado na recepção revelava tendências modernistas ao conferir status de arte às danças populares.
Incorreta. O momento mensurado pelo texto ocorre durante a presidência de Hermes da Fonseca, em 1914. Considera-se marco inicial do modernismo no Brasil a Semana de Arte Moderna de 1922.
e) A apresentação do maxixe Corta-jaca indicava uma resposta para contornar a xenofobia e eugenia presentes na cultura oficial.
Incorreta. Apesar de o texto da questão, de autoria de Rui Barbosa demonstrar uma crítica à postura feminina de Chiquinha Gonzaga e de Nair Teffé, seu principal intuito é valorizar as manifestações mais populares. Ou seja, a música não era uma resposta à cultura oficial, e sim uma manifestação popular característica da época.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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