Questão 69238

(FUVEST - 2022 - 1ª fase)

Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.

O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender, é labirinto.

Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.

Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito.

Gregório de Matos e Guerra

No soneto, o eu lírico:

A

expressa um conflito que confirma a imagem pública do poeta, conhecido pelo epíteto de “o Boca do Inferno”.

B

opta por sufocar a própria voz como estratégia apaziguadora de suas perturbações de foro íntimo.

C

explora a censura que o autor sofreu em sua época, ao ser impedido de dar expressão aos seus sentimentos.

D

estabelece, nos tercetos, um contraponto semântico entre as metáforas da natureza e da guerra.

E

revela-se como um ser atormentado, ao mesmo tempo que omite a natureza de seu sofrimento.

Gabarito:

revela-se como um ser atormentado, ao mesmo tempo que omite a natureza de seu sofrimento.



Resolução:

[E]

O eu lírico nesse soneto mostra, ao mesmo tempo, duas faces: uma marcada pela tristeza e pela angústia, e a outra que, diante dessa primeira, insiste na ocultação de tais sentimentos. A tormenta que acomete esse sujeito é paralela à sua necessidade de ocultá-la, como se lê em diversos trechos: 

"Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto."

A dualidade barroca se explicita nesses versos, em que estão, lado a lado, a consciência da dor e do fingimento. 

Sobre as demais alternativas

a) a alcunha de G. de Matos corresponde à figura de alguém com a "língua solta", que, no oposto desse eu lírico, não tem motivos para reter opiniões e sentimentos, por mais polêmicos e fortes que sejam; 

b) o "autossilenciamento" que o eu lírico revela nesse poema não é uma opção, estando o verbo "opta" incompatível com o conteúdo. Ademais, não se percebe um apaziguamento, e sim um aumento das angústias a partir desse silêncio ("não me chegam a vir à boca os tiros/ Dos combates que vão dentro no peito"); 

c) o poema não trata de uma censura externa e de fundo sociopolítico, e sim de uma "guerra" que se dá dentro do sujeito, em que ele mesmo oprime e silencia seus tormentos. 

d) as metáforas da natureza ("tempestade", "terra" e "mar") e da guerra ("tiros" e "combates") não formam um contraste semântico, visto que reiteram aquilo que acontece no interior do eu. O estrondo da tempestade e o estampido das armas se ouve apenas dentro, mas ecoa tensões externas (suspiros marinhos, terra, guerra) que esse eu tem de enfrentar perante o "segredo".  



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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