(FUVEST - 2022 - 1ª fase)
LEIA OS SEGUINTES TEXTOS DE MACHADO DE ASSIS PARA
RESPONDER A QUESTÃO:
I.
Suave mari magno*
Lembra-me que, em certo dia,
Na rua, ao sol de verão,
Envenenado morria
Um pobre cão.
Arfava, espumava e ria,
De um riso espúrio e bufão,
Ventre e pernas sacudia
Na convulsão.
Nenhum, nenhum curioso
Passava, sem se deter,
Silencioso,
Junto ao cão que ia morrer,
Como se lhe desse gozo
Ver padecer.
Machado de Assis. Ocidentais.
*Expressão latina, retirada de Lucrécio (Da natureza das coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari magno, turbantibus aequora ventis/ E terra magnum alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de um outro.”).
II.
Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão.
Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII.
III.
Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do leito o marido:
– Que foi? perguntou ele.
– Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei?
(...)
– Sonhei que estavam matando você.
Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele, ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma piedade gostosa, um sentimento particular, íntimo, profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela gritasse angustiada, convulsa, cheia de dor e de pavor.
Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI.
A analogia consiste em um recurso de expressão comumente utilizado para ilustrar um raciocínio por meio da semelhança que se observa entre dois fatos ou ideias. No texto II, a analogia construída a partir da imagem do chicote pretende sugerir que
o instrumento do castigo nem sempre cai em mãos justas.
o apreço aos objetos independe do uso que se faz deles.
o cabo é metáfora de mérito, e a ponta, metáfora de culpa.
o mais fraco, por ser compassivo, é incapaz de desfrutar do poder
o prazer verdadeiro se experimenta no lado dos dominantes.
Gabarito:
o prazer verdadeiro se experimenta no lado dos dominantes.
A) INCORRETA: não há um juízo de valor em relação a qual mão está o chicote (isto é, a relação de poder). Só é dito que para bem apreciar o chicote, é preciso ter o cabo na mão.
B) INCORRETA: quando se fala de “apreço” está sendo referenciado uma estima/consideração pelo objeto desse apreço. No entanto, essa consideração não está propriamente no objeto “chicote”, mas sim no que ele representa: o poder.
C) INCORRETA: para que houvesse uma relação de mérito-culpa, seria necessário a presença de uma informação do modo como esse chicote chegou às mãos dessa pessoa ou o porquê de uma outra pessoa ter sido castigado por ele. Neste caso, não há essa relação de mérito e de culpa, apenas a informação de que ter o chicote em mãos representa o poder (seja para aquele meritório, seja para o culpado).
D) INCORRETA: não é colocada, no pequeno trecho extraído de Quincas Borba, que a pessoa que sofre da força do chicote é incapaz de inverter os lados, ou seja, deixar de ser oprimido e ter o poder do objeto em mãos. Só é colocado que quem tem o chicote em mãos, experimentará o poder melhor do que quem não tem.
E) CORRETA: essa afirmação está de acordo com o que foi dito no trecho II, uma vez que, ao ser dito “o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão”, o autor está exprimindo que o verdadeiro prazer é experimentado por aquele que tem o cabo do chicote nas mãos, ou seja, o poder de manuseá-lo e castigar outras pessoas. Ter o poder nas mãos demonstra uma relação de dominância em relação aos outros.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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