(FUVEST - 2023)
Leia os versos e responda à questão:
Ambição gera injustiça. | |
Injustiça, covardia. | |
Dos heróis martirizados | |
nunca se esquece a agonia. | |
Por horror ao sofrimento, | |
ao valor se renuncia. | |
E, à sombra de exemplos graves, | |
nascem gerações opressas. | |
Quem se mata em sonho, esforço, | |
mistérios, vigílias, pressas? | |
Quem confia nos amigos? | |
Quem acredita em promessas? | |
Que tempos medonhos chegam, | |
depois de tão dura prova? | |
Quem vai saber, no futuro, | |
o que se aprova ou reprova? | |
De que alma é que vai ser feita | |
essa humanidade nova? | |
Cecília Meireles – trecho final do “Romance LIX ou Da Reflexão dos Justos”, de Romanceiro da Inconfidência. |
a) Como se articula a sequência ambição, injustiça e covardia – formada no poema – com o episódio fatal de Tiradentes?
b) A voz lírica interroga quais serão as consequências dos acontecimentos bárbaros da história sobre as novas gerações. Por que essa é uma reflexão dos justos?
Gabarito:
Resolução:
A) Os três termos, tal como surgem dispostos no poema, encadeiam os três passos que marcaram a morte por execução de Tiradentes, correspondendo ao motivo, à ação e à consequência do episódio. Primeiro, a causa real que moveu tanto a trama dos inconfidentes quanto a oposição violenta da Metrópole (a ambição ligada ao ouro); depois, o falso julgamento, cuja sentença tratou de eleger um mártir e castigá-lo exemplarmente à vista de todos a fim de espalhar o terror (a injustiça oficial); e por fim, o efeito mesmo dessa pena cruel: a paralisia das testemunhas tocadas pelo medo de sofrer igual castigo (a covardia cúmplice).
B) Perplexa diante do horror revivido pela memória, a voz lírica especula, para além da catástrofe em cena, quais e quão duradouras serão as consequências das ações perversas que se cometeram no período da Inconfidência Mineira. Sob o pavor, as diversas gerações seguintes aquele momento ainda restarão acovardadas, inertes em face das injustiças e dos desmandos, pois já ninguém se rebela ou enxerga no outro a seu lado um companheiro de luta. Com isso, fecha-se a História em um círculo danoso, repetidor de atentados que assim garantem a conservação das tiranias e das diferenças entre os homens. Essa reflexão, a um só tempo sombria e reativa, caracteriza o timbre de todo o livro, capaz de avaliar a violência do acontecimento passado e sugerir a revolta no presente — logo, trata-se de uma voz que se põe no lugar dos justos.
(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado
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(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)
Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:
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(Fuvest 2016)
Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.
Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento
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(Fuvest 2012)
Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:
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