(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 1)
(Folha de S. Paulo,11 de outubro de 2004).
Na tira de Garfield, a comicidade se dá por uma dupla possibilidade de leitura.
a) Explicite as duas leituras possíveis e explique como se constrói cada uma delas.
b) Use vírgula(s) para discernir uma leitura da outra.
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(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 2)
Na primeira página da Folha de S. Paulo de 22 de outubro de 2004, encontramos uma seqüência de fotos a companhada de uma legenda cujo título é: “A QUEDA DE FIDEL”. No texto da legenda, o jornal explica: O ditador cubano, Fidel Castro, 78, se desequilibra e cai após discursar em praça de Santa Clara (Cuba), em evento transmitido ao vivo pela TV; logo depois, ele disse achar que havia quebrado o joelho e talvez um braço, mas que estava “inteiro”; mais tarde, o governo divulgou que Fidel fraturou o joelho esquerdo e teve fissura do braço direito.
a) O que a leitura desse título provoca? Por quê?
b) Proponha um outro título para a legenda. Justifique
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(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 3)
Foi no tempo em que a Bandeirantes recém-inaugurara suas novas instalações no Morumbi. Não havia transporte público até o nosso local de trabalho, e a direção da casa organizou um serviço com viaturas próprias. (...) Paraná era um dos motoristas. (...)
Numa das subidas para o Morumbi “fechou” sem nenhuma maldade um automóvel. O cidadão que o dirigia estava com os filhos, era diretor do São Paulo F.C., e largou o verbo em cima do pobre do Paraná. Que respondeu à altura. Logo depois que a perua chegou ao Morumbi, todo mundo de ponto batido, o automóvel pára em frente da porta dos funcionários, e o seu condutor desce bufando: “Onde está o motorista dessa perua? (e lá vinha chegando o Paraná). Você me ofendeu na frente dos meus filhos. Não tem o direito de agir dessa forma, me chamar do nome que me chamou. Vou falar ao João Saad, que é meu amigo!” E o Paraná, já fuzilando, dedo em riste, tonitruou em seu sotaque mais que explícito: “Le” chamei e “le” chamo de novo... veado ... veado ... Não houve reação da parte ofendida.
(Flávio Araújo, O rádio, o futebol e a vida. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2001, p. 50-1).
a) Na seqüência “(...) e largou o verbo em cima do pobre do Paraná. Que respondeu à altura”, se trocarmos o ponto final que aparece depois de ‘Paraná’ por uma vírgula, ocorrem mudanças na leitura? Justifique.
b) O trecho da resposta de Paraná “Le chamei e le chamo de novo ...” chama a atenção do leitor para a sintaxe da língua. Explique.
c) Substitua ‘tonitruou’ por outra palavra ou expressão.
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(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 4)
Em um jornal de circulação restrita, vemos, na capa, a seguinte chamada:
Inspire
saúde!
Sem fumar,
respire
aliviado!
No interior do Jornal, a matéria começa da seguinte forma: Desperte o não-fumante que há em você!, seguida logo adiante de O fumante passivo – aquele que não fuma, mas freqüenta ambientes poluídos pela fumaça do cigarro – também tem sua saúde prejudicada.
(Jornal da Cassi – Publicação da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, ano IX, n. 40, junho/julho de 2004).
Levando em consideração os trechos citados, observamos, na chamada da capa, um interessante jogo polissêmico.
a) Apresente dois sentidos de ‘Inspire’ em ‘Inspire saúde!’. Justifique.
b) Apresente dois sentidos de ‘aliviado’ em ‘respire aliviado!’. Justifique.
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(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 5)
. Em Angústia de Graciliano Ramos, encontramos seqüências instigantes: Penso em indivíduos e em objetos que não têm relação com os desenhos: processos, orçamentos, o diretor, o secretário, políticos, sujeitos remediados que me desprezam porque sou um pobre-diabo. Tipos bestas. Ficam dias inteiros fuxicando nos cafés e preguiçando, indecentes.
(...)
Fomos morar na vila. Meteram-me na escola de seu Antônio Justino, para desasnar, pois, como disse Camilo quando me apresentou ao mestre, eu era um cavalo de dez anos e não conhecia a mão direita. Aprendi leitura, o catecismo, a conjugação dos verbos. O professor dormia durante as lições. E a gente bocejava olhando as paredes, esperando que uma réstia chegasse ao risco de lápis que marcava duas horas. Saíamos em algazarra.
(Graciliano Ramos, Angústia. Rio de Janeiro: Ed. Record, 56ª.ed., 2003, p. 8-9 e 15).
a) Que processos permitem as construções ‘preguiçando’ e ‘desasnar’ na língua?
b) Se substituirmos ‘preguiçando’ por ‘descansando’ e ‘desasnar’ por ‘aprender’, observamos uma relação diferente com a poesia da língua. Explicite essa diferença.
c) O uso de ‘desasnar’ pode nos remeter, entre outras palavras, a ‘desemburrecer’ e ‘desemburrar’. No Dicionário Houaiss da língua portuguesa (ed. Objetiva, 2001), o verbete ‘desemburrar’ apresenta como acepções tanto ‘livrarse da ignorância’, quanto ‘perder o enfezamento’, e marca sua etimologia como des + emburrar. Seguindo nossa consulta, encontramos no verbete ‘emburrar’ o ano de 1647 que, segundo a Chave do Dicionário Houaiss, indica a “data em que [essa palavra] entrou no português”.
A fonte dessa datação é a obra Thesouro da lingoa portuguesa composta pelo Padre D. Bento Pereyra, publicada em Lisboa. Embora ‘desemburrecer’ não apareça no dicionário, encontra mos ‘emburrecer’, cuja entrada no português, segundo o Houaiss, data de 1998, atestada pela obra de Celso Pedro Luft Dicionário prático de regência verbal, publicada em São Paulo. O verbete ‘desasnar’ data de 1713, atestado pela obra Vocabulário portugueza e latino de Rafael Bluteau, publicada em CoimbraLisboa.
Tendo em vista as observações acima apresentadas – a presença ou não desses verbetes no dicionário, as datas de entrada no português e as fontes que atestam essas entradas – o que se pode compreender sobre a relação entre o dicionário e a língua?
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(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 6)
Mario Sergio Cortella, em sua coluna mensal “Outras Idéias” escreve:
(...) reconheça-se: a maior contribuição de Colombo não foi ter colocado um ovo em pé ou ter aportado por aqui depois de singrar mares nunca dantes navegados. Colombo precisa ser lembrado como a pessoa que permitiu a nós, falantes do inglês, do francês ou do português, que tivéssemos contato com uma língua que, do México até o extremo sul da América, é capaz de nos ensinar a dizer “nosotros” em vez de apenas “we”, “nous”, “nós”, afastando a arrogante postura do “nós” de um lado e do “vocês” do outro. Pode parecer pouco, mas “nós’ é quase barreira que separa, enquanto “nosotros” exige perceber uma visão de alteridade, isto é, ver o outro como um outro, e não como um estranho. Afinal, quem são os outros de nós mesmos? O mesmo que somos para os outros, ou seja, outros!
(Mario Sergio Cortella, Folha de S.Paulo, 9 de outubro de 2003).
O texto acima nos faz pensar na distinção entre um ‘nós’ inclusivo e um ‘nós’ excludente.
a) Segundo o excerto, ‘nosotros’ apresenta um sentido inclusivo. Justifique pela morfologia dessa palavra.
b) “Nós brasileiros falamos português” apresenta um ‘nós’ excludente. Explique.
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(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 7)
Leia o seguinte trecho do conto “O enfermeiro”:
Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: “Caim, que fizeste de teu irmão?”
(Machado de Assis, “Várias Histórias”, em Obra Completa , v. II, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p.532).
a) A qual episódio do conto essa citação bíblica remete?
b) O que leva o narrador a relacionar o episódio narrado com a citação bíblica?
c) De que modo o desfecho do cont o revela uma outra faceta do narrador-personagem?
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(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 8)
Leia o poema abaixo, de Manuel António Pina, importante nome da lírica portuguesa contemporânea:
AGORA É
Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro
Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
Isto agora demora
(Manuel António Pina, Poesia Reunida (1974-2001). Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p. 49).
a) O poema trata de uma transformação. Explique-a.
b) Que palavra marca essa transformação?
c) Qual a diferença introduzida por essa transformação no tratamento convencional dado ao tema?
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(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 9)
Leia a seguinte passagem do conto “A sociedade”:
O esperado grito do cláxon fechou o livro de Henri Ardel e trouxe Teresa Rita do escritório para o terraço. O Lancia passou como quem não quer. Quase parando. A mão enluvada cumprimentou com o chapéu Borsalino. Uiiiiia-uiiiiia! Adriano Melli calcou o acelerador. Na primeira esquina fez a curva. Veio voltando. Passou de novo. Continuou. Mais duzentos metros. Outra curva. Sempre na mesma rua. Gostava dela. Era a Rua da Liberdade. Pouco antes do número 259-C já sabe: uiiiiia-uiiiiia!
(Antônio de Alcântara Machado, Brás, Bexiga e Barra Funda, em Novelas Paulistanas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959, p. 25).
a) No trecho acima, a linguagem e as imagens apontam para a influência das vanguardas no primeiro momento modernista. Selecione dois exemplos e comente-os.
b) O título refere-se a mais de uma sociedade presente no conto. Quais são elas?
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(UNICAMP - 2005 - 2a fase - Questão 10)
Leia os diálogos abaixo da peça “O Velho da Horta”de Gil Vicente:
(Mocinha) – Estás doente, ou que haveis?
(Velho) – Ai! não sei, desconsolado, Que nasci desventurado.
(Mocinha) – Não choreis; mais mal fadada vai aquela.
(Velho) – Quem?
(Mocinha) – Branca Gil.
(Velho) – Como?
(Mocinha) – Com cent’açoutes no lombo, e uma corocha por capela*. E ter mão; leva tão bom coração,** como se fosse em folia. Ó que grandes que lhos dão!***
* (corocha) cobertura para a cabeça própria das alcoviteiras; (por capela) por grinalda.
** caminha tão corajosa
*** Ó que grandes açoites que lhe dão!
(Gil Vicente, O Velho da Horta, em Cleonice Berardinelli (org.), Antologia do Teatro de Gil Vicente. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Brasília, INL, 1984, p. 274).
a) A qual desventura refere-se o Velho neste diálogo com a Mocinha?
b) A que se deve o castigo imposto a Branca Gil?
c) Diante do castigo, Branca Gil adota uma atitude paradoxal. Por quê?
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