(UNESP - 2012/2 - 2a fase - Questão 21)
A figura mostra o esquema de ligação de um aquecedor elétrico construído com quatro resistores ôhmicos iguais de resistência R. Os fios e a chave CH têm resistências desprezíveis. A chave pode ser ligada no ponto 1 ou no ponto 2 e o aparelho é sempre ligado a uma diferença de potencial constante U. Quando a chave CH é ligada no ponto 1, o amperímetro ideal mostrado na figura indica uma corrente de intensidade 2,4 A e os resistores dissipam, no total, 360 W.
Calcule a diferença de potencial U. Calcule a intensidade da corrente elétrica indicada pelo amperímetro quando a chave CH for ligada no ponto 2.
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(UNESP - 2012/2 - 2a fase - Questão 24)
Identifique o lugar geométrico das imagens dos números complexos Z, tais que |Z| + |3 · Z| = 12.
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(UNESP - 2012 - 2ª fase)
O homem que queria eliminar a memória
(...)
Estava na sala diante do doutor. Uma sala branca, anônima. Por que são sempre assim, derrotando a gente logo de entrada?
O médico:
— Sim?
— Quero me operar. Quero que o senhor tire um pedaço do meu cérebro.
— Um pedaço do cérebro? Por que vou tirar um pedaço do seu cérebro?
— Porque eu quero.
— Sim, mas precisa me explicar. Justificar.
— Não basta eu querer?
— Claro que não.
— Não sou dono do meu corpo?
— Em termos.
— Como em termos?
— Bem, o senhor é e não é. Há certas coisas que o senhor está impedido de fazer. Ou melhor; eu é que estou impedido de fazer no senhor.
— Quem impede?
— A ética, a lei.
— A sua ética manda também no meu corpo? Se pago, se quero, é porque quero fazer do meu corpo aquilo que desejo. E se acabou.
— Olha, a gente vai ficar o dia inteiro nesta discussão boba. E não tenho tempo a perder. Por que o senhor quer cortar um pedaço do cérebro?
— Quero eliminar a minha memória.
— Para quê?
— Gozado, as pessoas só sabem perguntar: o quê? por quê? para quê? Falei com dezenas de pessoas e todos me perguntaram: por quê? Não podem aceitar pura e simplesmente alguém que deseja eliminar a memória.
— Já que o senhor veio a mim para fazer esta operação, tenho ao menos o direito dessa informação.
— Não quero mais me lembrar de nada. Só isso. As coisas passaram, passaram. Fim!
— Não é tão simples assim. Na vida diária, o senhor precisa da memória. Para lembrar pequenas coisas. Ou grandes. Compromissos, encontros, coisas a pagar, etc.
— É tudo isso que vou eliminar. Marco numa agenda, olho ali e pronto.
— Não dá para fazer isso, de qualquer modo. A medicina não está tão adiantada assim.
— Em lugar nenhum posso eliminar a minha memória?
— Que eu saiba não.
— Seria muito melhor para os homens. O dia a dia. O dia de hoje para a frente. Entende o que eu quero dizer? Nenhuma lembrança ruim ou boa, nenhuma neurose. O passado fechado, encerrado. Definitivamente bloqueado. Não seria engraçado? Não se lembrar sequer do que se tomou no café da manhã? E para que quero me lembrar do que tomei no café da manhã?
(Ignácio de Loyola Brandão. Cadeiras proibidas: contos. Rio de Janeiro: Codecri, 1984, p. 32-34.)
Os avanços da genética nos filmes
Uma boa forma de se pensar as possibilidades e riscos no avanço das ciências é se aventurar nas ficções literárias e cinematográficas. Enquanto os cientistas devem zelar para não fazer especulações infundadas, os autores de ficção tratam de dar asas à imaginação e projetar em histórias emocionantes as possíveis aplicações da ciência e alguns de seus efeitos inesperados.
A possibilidade de recriação da vida humana ou do controle que poderíamos ter sobre seus corpos e destinos são alguns dos grandes temas que há muito tempo vêm sendo explorados. O que seria de nossa vida se soubéssemos como prolongá-la indefinidamente? Como ficariam nossos corpos se pudéssemos transformá-los à vontade ou se conseguíssemos fabricar seres para nos substituírem nas tarefas duras e chatas? Não seria uma maravilha se pudéssemos implantar ou fazer um download de memórias e conhecimentos que nos dispensassem de ter que aprender “na marra”, com muito estudo e algumas experiências ruins? Que tal poder escolher e reconfigurar nossas características e as das pessoas com quem convivemos?
Nosso imaginário é povoado por robôs, clones, artifícios fantásticos, instrumentos poderosos e tecnologias sofisticadas que aparecem sob variadas formas nos enredos de diversos filmes. Metrópolis, Frankenstein, Blade Runner, Inteligência Artificial, Eu Robô e Matrix são alguns que se tornaram clássicos, pois foram marcantes para gerações e continuam sendo referidos e revisitados. De maneira geral, retratam como boas ideias podem ter desdobramentos imprevistos e indesejáveis. É o que acontece, por exemplo, nas narrativas utópicas que descrevem sociedades ideais, mas que se revelam sombrias e nada atraentes quando conhecidas de perto, como nos filmes 1984 ou Brazil.
Isto obviamente não invalida, nem deveria desestimular, os avanços do conhecimento. Pelo contrário! Juntamente com as dúvidas que essas histórias lançam sobre nossas certezas e expectativas, elas suscitam interrogações e recolocam questões fundamentais. Se a engenharia genética pode fazer as pessoas melhores, mais saudáveis, mais desejáveis, por que não seguir em frente? Quais seriam as implicações dessa seleção artificial?
Assistir e conversar sobre o filme GATTACA é uma boa forma de entrar nessa discussão. O nome da produção e do local onde se passa vem das letras com que representamos as sequências do DNA (G, A, T, C). Mais precisamente, as iniciais das bases químicas dessas moléculas: Guanina, Adenina, Timina e Citosina. O filme retrata uma sociedade organizada e estratificada de forma racional, tomando como base o levantamento genético dos indivíduos. Aparentemente, uma forma de se aproveitar melhor, e para o bem comum, as características e o potencial de cada um. Acontece que um jovem, inconformado com o destino que seus genes “defeituosos” lhe reservara, falseia sua identidade genética para assumir a profissão com que sempre sonhara, a de espaçonauta. Boa parte da trama e do suspense do filme advém do fato de que sua verdadeira identidade biológica, inválida para aquela atividade, tinha que ser ocultada todo o tempo e com muita astúcia, pois a manutenção da ordem social se baseava em constantes escaneamentos genéticos. As situações enfrentadas pelo personagem nos levam a compartilhar sua percepção de injustiça, e torcer pela subversão ao sistema.
(Bernardo Jefferson de Oliveira. Os avanços da genética nos filmes. pré-Univesp, edição 6, 15.11.2010: www.univesp.ensinosuperior.sp.gov)
Segundo se depreende da síntese de Bernardo Jefferson de Oliveira, ao apresentar uma sociedade organizada e estratificada de forma racional, tomando como base o levantamento genético dos indivíduos, o filme GATTACA focaliza uma utopia cuja aplicação, como em todas as utopias, acaba não dando inteiramente certo. Indique qual o aspecto da natureza humana que a organização da sociedade de GATTACA ignorou e que acabou gerando toda complicação focalizada no enredo do filme.
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(UNESP - 2012 - 2ª fase)
O homem que queria eliminar a memória
(...)
Estava na sala diante do doutor. Uma sala branca, anônima. Por que são sempre assim, derrotando a gente logo de entrada?
O médico:
— Sim?
— Quero me operar. Quero que o senhor tire um pedaço do meu cérebro.
— Um pedaço do cérebro? Por que vou tirar um pedaço do seu cérebro?
— Porque eu quero.
— Sim, mas precisa me explicar. Justificar.
— Não basta eu querer?
— Claro que não.
— Não sou dono do meu corpo?
— Em termos.
— Como em termos?
— Bem, o senhor é e não é. Há certas coisas que o senhor está impedido de fazer. Ou melhor; eu é que estou impedido de fazer no senhor.
— Quem impede?
— A ética, a lei.
— A sua ética manda também no meu corpo? Se pago, se quero, é porque quero fazer do meu corpo aquilo que desejo. E se acabou.
— Olha, a gente vai ficar o dia inteiro nesta discussão boba. E não tenho tempo a perder. Por que o senhor quer cortar um pedaço do cérebro?
— Quero eliminar a minha memória.
— Para quê?
— Gozado, as pessoas só sabem perguntar: o quê? por quê? para quê? Falei com dezenas de pessoas e todos me perguntaram: por quê? Não podem aceitar pura e simplesmente alguém que deseja eliminar a memória.
— Já que o senhor veio a mim para fazer esta operação, tenho ao menos o direito dessa informação.
— Não quero mais me lembrar de nada. Só isso. As coisas passaram, passaram. Fim!
— Não é tão simples assim. Na vida diária, o senhor precisa da memória. Para lembrar pequenas coisas. Ou grandes. Compromissos, encontros, coisas a pagar, etc.
— É tudo isso que vou eliminar. Marco numa agenda, olho ali e pronto.
— Não dá para fazer isso, de qualquer modo. A medicina não está tão adiantada assim.
— Em lugar nenhum posso eliminar a minha memória?
— Que eu saiba não.
— Seria muito melhor para os homens. O dia a dia. O dia de hoje para a frente. Entende o que eu quero dizer? Nenhuma lembrança ruim ou boa, nenhuma neurose. O passado fechado, encerrado. Definitivamente bloqueado. Não seria engraçado? Não se lembrar sequer do que se tomou no café da manhã? E para que quero me lembrar do que tomei no café da manhã?
(Ignácio de Loyola Brandão. Cadeiras proibidas: contos. Rio de Janeiro: Codecri, 1984, p. 32-34.)
Os avanços da genética nos filmes
Uma boa forma de se pensar as possibilidades e riscos no avanço das ciências é se aventurar nas ficções literárias e cinematográficas. Enquanto os cientistas devem zelar para não fazer especulações infundadas, os autores de ficção tratam de dar asas à imaginação e projetar em histórias emocionantes as possíveis aplicações da ciência e alguns de seus efeitos inesperados.
A possibilidade de recriação da vida humana ou do controle que poderíamos ter sobre seus corpos e destinos são alguns dos grandes temas que há muito tempo vêm sendo explorados. O que seria de nossa vida se soubéssemos como prolongá-la indefinidamente? Como ficariam nossos corpos se pudéssemos transformá-los à vontade ou se conseguíssemos fabricar seres para nos substituírem nas tarefas duras e chatas? Não seria uma maravilha se pudéssemos implantar ou fazer um download de memórias e conhecimentos que nos dispensassem de ter que aprender “na marra”, com muito estudo e algumas experiências ruins? Que tal poder escolher e reconfigurar nossas características e as das pessoas com quem convivemos?
Nosso imaginário é povoado por robôs, clones, artifícios fantásticos, instrumentos poderosos e tecnologias sofisticadas que aparecem sob variadas formas nos enredos de diversos filmes. Metrópolis, Frankenstein, Blade Runner, Inteligência Artificial, Eu Robô e Matrix são alguns que se tornaram clássicos, pois foram marcantes para gerações e continuam sendo referidos e revisitados. De maneira geral, retratam como boas ideias podem ter desdobramentos imprevistos e indesejáveis. É o que acontece, por exemplo, nas narrativas utópicas que descrevem sociedades ideais, mas que se revelam sombrias e nada atraentes quando conhecidas de perto, como nos filmes 1984 ou Brazil.
Isto obviamente não invalida, nem deveria desestimular, os avanços do conhecimento. Pelo contrário! Juntamente com as dúvidas que essas histórias lançam sobre nossas certezas e expectativas, elas suscitam interrogações e recolocam questões fundamentais. Se a engenharia genética pode fazer as pessoas melhores, mais saudáveis, mais desejáveis, por que não seguir em frente? Quais seriam as implicações dessa seleção artificial?
Assistir e conversar sobre o filme GATTACA é uma boa forma de entrar nessa discussão. O nome da produção e do local onde se passa vem das letras com que representamos as sequências do DNA (G, A, T, C). Mais precisamente, as iniciais das bases químicas dessas moléculas: Guanina, Adenina, Timina e Citosina. O filme retrata uma sociedade organizada e estratificada de forma racional, tomando como base o levantamento genético dos indivíduos. Aparentemente, uma forma de se aproveitar melhor, e para o bem comum, as características e o potencial de cada um. Acontece que um jovem, inconformado com o destino que seus genes “defeituosos” lhe reservara, falseia sua identidade genética para assumir a profissão com que sempre sonhara, a de espaçonauta. Boa parte da trama e do suspense do filme advém do fato de que sua verdadeira identidade biológica, inválida para aquela atividade, tinha que ser ocultada todo o tempo e com muita astúcia, pois a manutenção da ordem social se baseava em constantes escaneamentos genéticos. As situações enfrentadas pelo personagem nos levam a compartilhar sua percepção de injustiça, e torcer pela subversão ao sistema.
(Bernardo Jefferson de Oliveira. Os avanços da genética nos filmes. pré-Univesp, edição 6, 15.11.2010: www.univesp.ensinosuperior.sp.gov)
No primeiro parágrafo e em outras passagens do artigo, Bernardo Jefferson de Oliveira destaca que os literatos e os cineastas desfrutam de uma liberdade que os cientistas não têm ante suas próprias descobertas científicas. Que liberdade é essa?
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(UNESP - 2012 - 2ª fase)
Um homem superior
Quis a desgraça de Medeiros [patrão de Clemente] que os negócios lhe corressem mal; duas ou três catástrofes comerciais o puseram às portas da morte.
Clemente Soares fez quanto pôde para salvar a casa de que dependia o seu futuro, mas nenhum esforço era possível contra um desastre marcado pelo destino, que é o nome que se dá à tolice dos homens ou ao concurso das circunstâncias.
Achou-se sem emprego nem dinheiro.
(...)
No pior da sua posição, recebeu Clemente uma carta em que o comendador o convidava a ir passar algum tempo na fazenda.
Sabedor da catástrofe de Medeiros, queria o comendador naturalmente dar a mão ao rapaz. Este não esperou que repetisse o convite. Escreveu logo dizendo que daí a um mês se poria em marcha.
Efetivamente um mês depois saía Clemente Soares em caminho do município de***, onde era a fazenda do comendador Brito.
O comendador esperava-o ansioso. E não menos ansiosa estava a moça, não sei se porque já lhe tivesse amor, se porque ele fosse uma distração no meio da monótona vida rural.
Recebido como amigo, tratou Clemente Soares de pagar a hospitalidade, fazendo-se conviva alegre e divertido. Ninguém o poderia melhor do que ele.
Dotado de grande perspicácia, compreendeu em poucos dias como entendia o comendador a vida do campo, e tratou de o lisonjear por todos os modos.
Infelizmente, dez dias depois da sua chegada à fazenda, adoeceu gravemente o comendador Brito, por maneira que o médico poucas esperanças deu à família.
Era ver o zelo com que Clemente Soares servia de enfermeiro do doente, procurando por todos os meios suavizar-lhe os males. Passava noites em claro, ia aos povoados quando era necessário fazer alguma coisa mais importante, consolava o doente já com palavras de esperanças, já com animada conversa, cujo fim era distraí-lo de pensamentos lúgubres.
— Ah! dizia o pobre velho, que pena que eu o não conhecesse há mais tempo! Bem vejo que é um verdadeiro amigo.
— Não me elogie, comendador, dizia Clemente Soares, não me elogie, que é tirar o mérito, se o há, destes deveres agradáveis ao meu coração.
O procedimento de Clemente influiu no ânimo de Carlotinha, que nesse desafio de solicitude soube mostrar-se esposa dedicada e reconhecida. Ao mesmo tempo fez com que em seu coração se desenvolvesse o gérmen de afeto que Clemente de novo lhe lançara.
Carlotinha era uma moça frívola; mas a doença do marido, a perspectiva da viuvez, o desvelo do rapaz, tudo fez nela uma profunda revolução.
E mais que tudo, a delicadeza de Clemente Soares, que, durante esse tempo de tão graves preocupações para ela, nenhuma palavra de amor lhe dirigiu.
Era impossível que o comendador escapasse à morte.
(Machado de Assis. Contos fluminenses, vol. II. São Paulo: Editora Mérito, 1962, p. 103-105.)
Dotado de grande perspicácia, compreendeu em poucos dias como entendia o comendador a vida do campo, e tratou de o lisonjear por todos os modos. Explique em que medida o verbo “lisonjear”, empregado na frase, representa uma síntese da atitude de Clemente Soares ante o comendador, na passagem apresentada.
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(UNESP - 2012 - 2ª fase)
Um homem superior
Quis a desgraça de Medeiros [patrão de Clemente] que os negócios lhe corressem mal; duas ou três catástrofes comerciais o puseram às portas da morte.
Clemente Soares fez quanto pôde para salvar a casa de que dependia o seu futuro, mas nenhum esforço era possível contra um desastre marcado pelo destino, que é o nome que se dá à tolice dos homens ou ao concurso das circunstâncias.
Achou-se sem emprego nem dinheiro.
(...)
No pior da sua posição, recebeu Clemente uma carta em que o comendador o convidava a ir passar algum tempo na fazenda.
Sabedor da catástrofe de Medeiros, queria o comendador naturalmente dar a mão ao rapaz. Este não esperou que repetisse o convite. Escreveu logo dizendo que daí a um mês se poria em marcha.
Efetivamente um mês depois saía Clemente Soares em caminho do município de***, onde era a fazenda do comendador Brito.
O comendador esperava-o ansioso. E não menos ansiosa estava a moça, não sei se porque já lhe tivesse amor, se porque ele fosse uma distração no meio da monótona vida rural.
Recebido como amigo, tratou Clemente Soares de pagar a hospitalidade, fazendo-se conviva alegre e divertido. Ninguém o poderia melhor do que ele.
Dotado de grande perspicácia, compreendeu em poucos dias como entendia o comendador a vida do campo, e tratou de o lisonjear por todos os modos.
Infelizmente, dez dias depois da sua chegada à fazenda, adoeceu gravemente o comendador Brito, por maneira que o médico poucas esperanças deu à família.
Era ver o zelo com que Clemente Soares servia de enfermeiro do doente, procurando por todos os meios suavizar-lhe os males. Passava noites em claro, ia aos povoados quando era necessário fazer alguma coisa mais importante, consolava o doente já com palavras de esperanças, já com animada conversa, cujo fim era distraí-lo de pensamentos lúgubres.
— Ah! dizia o pobre velho, que pena que eu o não conhecesse há mais tempo! Bem vejo que é um verdadeiro amigo.
— Não me elogie, comendador, dizia Clemente Soares, não me elogie, que é tirar o mérito, se o há, destes deveres agradáveis ao meu coração.
O procedimento de Clemente influiu no ânimo de Carlotinha, que nesse desafio de solicitude soube mostrar-se esposa dedicada e reconhecida. Ao mesmo tempo fez com que em seu coração se desenvolvesse o gérmen de afeto que Clemente de novo lhe lançara.
Carlotinha era uma moça frívola; mas a doença do marido, a perspectiva da viuvez, o desvelo do rapaz, tudo fez nela uma profunda revolução.
E mais que tudo, a delicadeza de Clemente Soares, que, durante esse tempo de tão graves preocupações para ela, nenhuma palavra de amor lhe dirigiu.
Era impossível que o comendador escapasse à morte.
(Machado de Assis. Contos fluminenses, vol. II. São Paulo: Editora Mérito, 1962, p. 103-105.)
Dotado de grande perspicácia, compreendeu em poucos dias como entendia o comendador a vida do campo, e tratou de o lisonjear por todos os modos. Explique em que medida o verbo “lisonjear”, empregado na frase, representa uma síntese da atitude de Clemente Soares ante o comendador, na passagem apresentada.
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(UNESP - 2012 - 2ª fase)
Um homem superior
Quis a desgraça de Medeiros [patrão de Clemente] que os negócios lhe corressem mal; duas ou três catástrofes comerciais o puseram às portas da morte.
Clemente Soares fez quanto pôde para salvar a casa de que dependia o seu futuro, mas nenhum esforço era possível contra um desastre marcado pelo destino, que é o nome que se dá à tolice dos homens ou ao concurso das circunstâncias.
Achou-se sem emprego nem dinheiro.
(...)
No pior da sua posição, recebeu Clemente uma carta em que o comendador o convidava a ir passar algum tempo na fazenda.
Sabedor da catástrofe de Medeiros, queria o comendador naturalmente dar a mão ao rapaz. Este não esperou que repetisse o convite. Escreveu logo dizendo que daí a um mês se poria em marcha.
Efetivamente um mês depois saía Clemente Soares em caminho do município de***, onde era a fazenda do comendador Brito.
O comendador esperava-o ansioso. E não menos ansiosa estava a moça, não sei se porque já lhe tivesse amor, se porque ele fosse uma distração no meio da monótona vida rural.
Recebido como amigo, tratou Clemente Soares de pagar a hospitalidade, fazendo-se conviva alegre e divertido. Ninguém o poderia melhor do que ele.
Dotado de grande perspicácia, compreendeu em poucos dias como entendia o comendador a vida do campo, e tratou de o lisonjear por todos os modos.
Infelizmente, dez dias depois da sua chegada à fazenda, adoeceu gravemente o comendador Brito, por maneira que o médico poucas esperanças deu à família.
Era ver o zelo com que Clemente Soares servia de enfermeiro do doente, procurando por todos os meios suavizar-lhe os males. Passava noites em claro, ia aos povoados quando era necessário fazer alguma coisa mais importante, consolava o doente já com palavras de esperanças, já com animada conversa, cujo fim era distraí-lo de pensamentos lúgubres.
— Ah! dizia o pobre velho, que pena que eu o não conhecesse há mais tempo! Bem vejo que é um verdadeiro amigo.
— Não me elogie, comendador, dizia Clemente Soares, não me elogie, que é tirar o mérito, se o há, destes deveres agradáveis ao meu coração.
O procedimento de Clemente influiu no ânimo de Carlotinha, que nesse desafio de solicitude soube mostrar-se esposa dedicada e reconhecida. Ao mesmo tempo fez com que em seu coração se desenvolvesse o gérmen de afeto que Clemente de novo lhe lançara.
Carlotinha era uma moça frívola; mas a doença do marido, a perspectiva da viuvez, o desvelo do rapaz, tudo fez nela uma profunda revolução.
E mais que tudo, a delicadeza de Clemente Soares, que, durante esse tempo de tão graves preocupações para ela, nenhuma palavra de amor lhe dirigiu.
Era impossível que o comendador escapasse à morte.
(Machado de Assis. Contos fluminenses, vol. II. São Paulo: Editora Mérito, 1962, p. 103-105.)
Releia o segundo parágrafo do conto de Machado de Assis e explique o que deixa implícito o narrador a respeito da noção usual de destino.
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(UNESP - 2012 - 2ª fase)
Na tira de Laerte, aponte o que o aluno não percebeu de imediato como primeira lição de Fagundes.
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(UNESP - 2012/2 - 2a fase - Questão 25)
O caso da A Folha
[...]
A Constituição Federal, edição oficial da Imprensa Nacional, 1891, Título III secção II, — Declaração dos Direitos, art. 72, § 12, diz:
“Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento pela imprensa, ou pela tribuna sem dependência de censura, respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato.”
A lei que dispõe sobre os crimes de responsabilidade do presidente da República diz ainda:
“Art. 28 — Tolher a liberdade da imprensa, impedindo arbitrariamente a publicação ou circulação dos jornais ou outros escritos impressos”, etc.
[...]
Em dias da semana passada, nesta cidade do Rio de Janeiro, em plena Avenida Central, agentes de polícia e outros funcionários subalternos, da repartição do doutor Geminiano, saíram-se dos seus cuidados e apreenderam das mãos de vendedores e rasgaram in continenti1 exemplares da A Folha, jornal recentemente fundado e dirigido pelo conhecido escritor Medeiros e Albuquerque.
Não é segredo para ninguém que o jornal desse ilustrado e destemido jornalista vem, desde a sua fundação, mantendo uma campanha contra a venda aos Estados Unidos dos navios que o Brasil tomou à Alemanha, por ocasião de declarar a guerra a esta.
A campanha tem sido corajosa e tem deveras contundido profundamente o governo, por isso, todos que se julgam pavoneados pelo Catete2 andam irritadíssimos com o vespertino de Medeiros.
A coisa está posta no ponto de vista patriótico, ponto de vista em que não gosto de ver julgada qualquer questão.
Para fim, o que eu achava honesto e sério, de cavalheiro, era entregar os buques3 aos seus verdadeiros donos; o mais tem um nome feio que não quero pôr aqui. Mas, etc., etc. Os agentes, como ia eu dizendo, apreenderam os jornais de Medeiros e Albuquerque, diante do povo bestializado; e, ao outro dia, um único quotidiano teve a coragem de denunciar semelhante escândalo, assim mesmo com reservas e injustificável prudência.
Sou insuspeito para falar assim dos jornais, porque lhes devo muito; mas, por isso mesmo, julgo que a força da imprensa periga, desde que nessa questão de liberdade de pensamento não houver a mais perfeita solidariedade de vistas em defendê-la contra os atentados dos governos verdadeiramente poderosos e os que se fingem poderosos, como o atual.
E essa defesa deve esquecer qualquer outra circunstância que milite em favor ou desfavor do jornal.
Não se quer saber se o jornal A, atacado pelos alguazis4 da governança, tira mil ou um milhão de exemplares, se é escrito na língua morta de Rui de Pina ou na que os símile-clássicos de hoje chamam vasconço5 ou lá que seja.
O que se deve indagar primeiro é se todo o ataque a um jornal ou à sua liberdade de circulação não é uma ameaça aos outros. Hodie mihi...6
Nesse caso da A Folha, apesar de serôdios7 , os protestos vieram; e, ainda ontem, A Noite, na secção “Ecos e Novidades”, denuncia que o próprio diretor dos Correios foi, em pessoa, a determinada dependência, para impedir que aquele jornal fosse distribuído aos seus assinantes.
Até onde quererão ir os administradores do Brasil em sabujice?
(Lima Barreto. Feiras e mafuás, 1961.)
(1) In continenti: no mesmo momento, imediatamente, no mesmo instante, na hora.
(2) Catete: Palácio do Catete, sede da presidência da República.
(3) Buques: navios.
(4) Alguazil: funcionário inferior de administração ou de justiça; funcionário subalterno; oficial de diligências; meirinho, beleguim, esbirro.
(5) Vasconço: basco; (fig.) linguagem confusa, afetada, ininteligível.
(6) Hodie mihi, cras tibi: provérbio latino que significa “hoje a mim, amanhã a ti”, isto é, o que acontece hoje comigo pode acontecer amanhã com você.
(7) Serôdio: fora de tempo, tardio, atrasado
A campanha tem sido corajosa e tem deveras contundido profundamente o governo...
Partindo do sentido próprio com que o verbo contundir é comumente empregado nos esportes e nas atividades físicas em geral, descreva o sentido figurado com que Lima Barreto emprega tem contundido na frase em destaque.
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(UNESP - 2012/2 - 2a fase - Questão 26)
O caso da A Folha
[...]
A Constituição Federal, edição oficial da Imprensa Nacional, 1891, Título III secção II, — Declaração dos Direitos, art. 72, § 12, diz:
“Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento pela imprensa, ou pela tribuna sem dependência de censura, respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato.”
A lei que dispõe sobre os crimes de responsabilidade do presidente da República diz ainda:
“Art. 28 — Tolher a liberdade da imprensa, impedindo arbitrariamente a publicação ou circulação dos jornais ou outros escritos impressos”, etc.
[...]
Em dias da semana passada, nesta cidade do Rio de Janeiro, em plena Avenida Central, agentes de polícia e outros funcionários subalternos, da repartição do doutor Geminiano, saíram-se dos seus cuidados e apreenderam das mãos de vendedores e rasgaram in continenti1 exemplares da A Folha, jornal recentemente fundado e dirigido pelo conhecido escritor Medeiros e Albuquerque.
Não é segredo para ninguém que o jornal desse ilustrado e destemido jornalista vem, desde a sua fundação, mantendo uma campanha contra a venda aos Estados Unidos dos navios que o Brasil tomou à Alemanha, por ocasião de declarar a guerra a esta.
A campanha tem sido corajosa e tem deveras contundido profundamente o governo, por isso, todos que se julgam pavoneados pelo Catete2 andam irritadíssimos com o vespertino de Medeiros.
A coisa está posta no ponto de vista patriótico, ponto de vista em que não gosto de ver julgada qualquer questão.
Para fim, o que eu achava honesto e sério, de cavalheiro, era entregar os buques3 aos seus verdadeiros donos; o mais tem um nome feio que não quero pôr aqui. Mas, etc., etc. Os agentes, como ia eu dizendo, apreenderam os jornais de Medeiros e Albuquerque, diante do povo bestializado; e, ao outro dia, um único quotidiano teve a coragem de denunciar semelhante escândalo, assim mesmo com reservas e injustificável prudência.
Sou insuspeito para falar assim dos jornais, porque lhes devo muito; mas, por isso mesmo, julgo que a força da imprensa periga, desde que nessa questão de liberdade de pensamento não houver a mais perfeita solidariedade de vistas em defendê-la contra os atentados dos governos verdadeiramente poderosos e os que se fingem poderosos, como o atual.
E essa defesa deve esquecer qualquer outra circunstância que milite em favor ou desfavor do jornal.
Não se quer saber se o jornal A, atacado pelos alguazis4 da governança, tira mil ou um milhão de exemplares, se é escrito na língua morta de Rui de Pina ou na que os símile-clássicos de hoje chamam vasconço5 ou lá que seja.
O que se deve indagar primeiro é se todo o ataque a um jornal ou à sua liberdade de circulação não é uma ameaça aos outros. Hodie mihi...6
Nesse caso da A Folha, apesar de serôdios7 , os protestos vieram; e, ainda ontem, A Noite, na secção “Ecos e Novidades”, denuncia que o próprio diretor dos Correios foi, em pessoa, a determinada dependência, para impedir que aquele jornal fosse distribuído aos seus assinantes.
Até onde quererão ir os administradores do Brasil em sabujice?
(Lima Barreto. Feiras e mafuás, 1961.)
(1) In continenti: no mesmo momento, imediatamente, no mesmo instante, na hora.
(2) Catete: Palácio do Catete, sede da presidência da República.
(3) Buques: navios.
(4) Alguazil: funcionário inferior de administração ou de justiça; funcionário subalterno; oficial de diligências; meirinho, beleguim, esbirro.
(5) Vasconço: basco; (fig.) linguagem confusa, afetada, ininteligível.
(6) Hodie mihi, cras tibi: provérbio latino que significa “hoje a mim, amanhã a ti”, isto é, o que acontece hoje comigo pode acontecer amanhã com você.
(7) Serôdio: fora de tempo, tardio, atrasado
Embora não faça uma acusação formal e direta, a leitura dos quatro primeiros parágrafos da crônica de Lima Barreto demonstra que este suspeitava ter havido um só mandatário das ações contra o jornal A Folha. Aponte esse mandatário e, com base nas informações fornecidas nos quatro primeiros parágrafos, explique qual seria sua responsabilidade legal.
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