FUVEST 2013

Questão 51149

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 26)

Escrever

Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva. Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação. Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a “coisa” vem. Fico assim à mercê do tempo. E, entre um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar anos. Lembro-me agora com saudade da dor de escrever livros.

(Clarice Lispector. A descoberta do mundo, 1999.)

Escrevendo o roteiro

Escrever um roteiro é um fenômeno espantoso, quase misterioso. Num dia você está com as coisas sob controle, no dia seguinte sob o controle delas, perdido em confusão e incerteza. Num dia tudo funciona, no outro não; ninguém sabe como ou por quê. É o processo criativo; que desafia análises; é mágica e maravilha. Tudo o que foi dito ou registrado sobre a experiência de escrever desde o início dos tempos resume-se a uma coisa — escrever é sua experiência particular, pessoal. De ninguém mais. Muita gente contribui para a feitura de um filme, mas o roteirista é a única pessoa que se senta e encara a folha de papel em branco. Escrever é trabalho duro, uma tarefa cotidiana, de sentar-se diariamente diante de seu bloco de notas, máquina de escrever ou computador, colocando palavras no papel. Você tem que investir tempo. Antes de começar a escrever, você tem que achar tempo para escrever. Quantas horas por dia você precisa dedicar-se a escrever? Depende de você. Eu trabalho cerca de quatro horas por dia, cinco dias por semana. John Millius escreve uma hora por dia, sete dias por semana, entre 5 e 6 da tarde. Stirling Silliphant, que escreveu The Towering Inferno (Inferno na Torre), às vezes escreve 12 horas por dia. Paul Schrader trabalha com a história na cabeça por meses, contando-a para as pessoas até que ele a conheça completamente; então ele “pula na máquina” e a escreve em cerca de duas semanas. Depois ele gastará semanas polindo e consertando a história. Você precisa de duas a três horas por dia para escrever um roteiro. Olhe para a sua agenda diária. Examine o seu tempo. Se você trabalha em horário integral, ou cuidando da casa e da família, seu tempo é limitado. Você terá que achar o melhor horário para escrever. Você é o tipo de pessoa que trabalha melhor pela manhã? Ou só vai acordar e ficar alerta no final da tarde? Tarde da noite pode ser um bom horário. Descubra.

(Syd Field. Manual do roteiro, 1995.)

Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a “coisa” vem.

Explique, com base no primeiro parágrafo do texto Escrevendo o roteiro, se Syd Field concorda com esta afirmação de Clarice Lispector.

Ver questão

Questão 51150

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 27)

Escrever

Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva. Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação. Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a “coisa” vem. Fico assim à mercê do tempo. E, entre um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar anos. Lembro-me agora com saudade da dor de escrever livros.

(Clarice Lispector. A descoberta do mundo, 1999.)

Escrevendo o roteiro

Escrever um roteiro é um fenômeno espantoso, quase misterioso. Num dia você está com as coisas sob controle, no dia seguinte sob o controle delas, perdido em confusão e incerteza. Num dia tudo funciona, no outro não; ninguém sabe como ou por quê. É o processo criativo; que desafia análises; é mágica e maravilha. Tudo o que foi dito ou registrado sobre a experiência de escrever desde o início dos tempos resume-se a uma coisa — escrever é sua experiência particular, pessoal. De ninguém mais. Muita gente contribui para a feitura de um filme, mas o roteirista é a única pessoa que se senta e encara a folha de papel em branco. Escrever é trabalho duro, uma tarefa cotidiana, de sentar-se diariamente diante de seu bloco de notas, máquina de escrever ou computador, colocando palavras no papel. Você tem que investir tempo. Antes de começar a escrever, você tem que achar tempo para escrever. Quantas horas por dia você precisa dedicar-se a escrever? Depende de você. Eu trabalho cerca de quatro horas por dia, cinco dias por semana. John Millius escreve uma hora por dia, sete dias por semana, entre 5 e 6 da tarde. Stirling Silliphant, que escreveu The Towering Inferno (Inferno na Torre), às vezes escreve 12 horas por dia. Paul Schrader trabalha com a história na cabeça por meses, contando-a para as pessoas até que ele a conheça completamente; então ele “pula na máquina” e a escreve em cerca de duas semanas. Depois ele gastará semanas polindo e consertando a história. Você precisa de duas a três horas por dia para escrever um roteiro. Olhe para a sua agenda diária. Examine o seu tempo. Se você trabalha em horário integral, ou cuidando da casa e da família, seu tempo é limitado. Você terá que achar o melhor horário para escrever. Você é o tipo de pessoa que trabalha melhor pela manhã? Ou só vai acordar e ficar alerta no final da tarde? Tarde da noite pode ser um bom horário. Descubra.

(Syd Field. Manual do roteiro, 1995.)

Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance.

Ao empregar na frase apresentada o advérbio eventualmente, o que revela Clarice Lispector sobre a criação de um conto ou romance?

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Questão 51152

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 28)

Escrever

Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva. Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação. Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a “coisa” vem. Fico assim à mercê do tempo. E, entre um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar anos. Lembro-me agora com saudade da dor de escrever livros.

(Clarice Lispector. A descoberta do mundo, 1999.)

Escrevendo o roteiro

Escrever um roteiro é um fenômeno espantoso, quase misterioso. Num dia você está com as coisas sob controle, no dia seguinte sob o controle delas, perdido em confusão e incerteza. Num dia tudo funciona, no outro não; ninguém sabe como ou por quê. É o processo criativo; que desafia análises; é mágica e maravilha. Tudo o que foi dito ou registrado sobre a experiência de escrever desde o início dos tempos resume-se a uma coisa — escrever é sua experiência particular, pessoal. De ninguém mais. Muita gente contribui para a feitura de um filme, mas o roteirista é a única pessoa que se senta e encara a folha de papel em branco. Escrever é trabalho duro, uma tarefa cotidiana, de sentar-se diariamente diante de seu bloco de notas, máquina de escrever ou computador, colocando palavras no papel. Você tem que investir tempo. Antes de começar a escrever, você tem que achar tempo para escrever. Quantas horas por dia você precisa dedicar-se a escrever? Depende de você. Eu trabalho cerca de quatro horas por dia, cinco dias por semana. John Millius escreve uma hora por dia, sete dias por semana, entre 5 e 6 da tarde. Stirling Silliphant, que escreveu The Towering Inferno (Inferno na Torre), às vezes escreve 12 horas por dia. Paul Schrader trabalha com a história na cabeça por meses, contando-a para as pessoas até que ele a conheça completamente; então ele “pula na máquina” e a escreve em cerca de duas semanas. Depois ele gastará semanas polindo e consertando a história. Você precisa de duas a três horas por dia para escrever um roteiro. Olhe para a sua agenda diária. Examine o seu tempo. Se você trabalha em horário integral, ou cuidando da casa e da família, seu tempo é limitado. Você terá que achar o melhor horário para escrever. Você é o tipo de pessoa que trabalha melhor pela manhã? Ou só vai acordar e ficar alerta no final da tarde? Tarde da noite pode ser um bom horário. Descubra.

(Syd Field. Manual do roteiro, 1995.)

No sétimo parágrafo do texto de Syd Field, que informação o autor passa ao aprendiz de roteirista com os diversos exemplos que apresenta?

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Questão 51153

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 29)

Canaã

— Hoje — disse Milkau quando chegaram a um trecho desembaraçado da praia —, devemos escolher o local para a nossa casa.
— Oh! não haverá dificuldade, neste deserto, de talhar o nosso pequeno lote... — desdenhou Lentz.
— Quanto a mim, replicou Milkau, uma ligeira inquietação de vago terror se mistura ao prazer extraordinário de recomeçar a vida pela fundação do domicílio, e pelas minhas próprias mãos... O que é lamentável nesta solenidade primitiva é a intervenção inútil do Estado...
— O Estado, que no nosso caso é o agrimensor Felicíssimo...
— Não seria muito mais perfeito que a terra e as suas coisas fossem propriedade de todos, sem venda, sem posse?
— O que eu vejo é o contrário disto. É antes a venalidade de tudo, a ambição, que chama a ambição e espraia o instinto da posse. O que está hoje fora do domínio amanhã será a presa do homem. Não acreditas que o próprio ar que escapa à nossa posse será vendido, mais tarde, nas cidades suspensas, como é hoje a terra? Não será uma nova forma da expansão da conquista e da propriedade?
— Ou melhor, não vês a propriedade tornar-se cada dia mais coletiva, numa grande ânsia de aquisição popular, que se vai alastrando e que um dia, depois de se apossar dos jardins, dos palácios, dos museus, das estradas, se estenderá a tudo?... O sentimento da posse morrerá com a desnecessidade, com a supressão da ideia da defesa pessoal, que nele tinha o seu repouso...
— Pois eu — ponderou Lentz —, se me fixar na ideia de converter-me em colono, desejarei ir alargando o meu terreno, chamar a mim outros trabalhadores e fundar um novo núcleo, que signifique fortuna e domínio... Porque só pela riqueza ou pela força nos emanciparemos da servidão.
— O meu quinhão de terra — explicou Milkau — será o mesmo que hoje receber; não o ampliarei, não me abandonarei à ambição, ficarei sempre alegremente reduzido à situação de um homem humilde entre gente simples. Desde que chegamos, sinto um perfeito encantamento: não é só a natureza que me seduz aqui, que me festeja, é também a suave contemplação do homem. Todos mostram a sua doçura íntima estampada na calma das linhas do rosto; há como um longínquo afastamento da cólera e do ódio. Há em todos uma resignação amorosa... Os naturais da terra são expansivos e alvissareiros da felicidade de que nos parecem os portadores... Os que vieram de longe esqueceram as suas amarguras, estão tranquilos e amáveis; não há grandes separações, o próprio chefe troca no lar o seu prestígio pela espontaneidade niveladora, que é o feliz gênio da sua raça. Vendo-os, eu adivinho o que é todo este País — um recanto de bondade, de olvido e de paz. Há de haver uma grande união entre todos, não haverá conflitos de orgulho e ambição, a justiça será perfeita; não se imolarão vítimas aos rancores abandonados na estrada do exílio. Todos se purificarão e nós também nos devemos esquecer de nós mesmos e dos nossos preconceitos, para só pensarmos nos outros e não perturbarmos a serenidade desta vida...

(Graça Aranha. Canaã, 1996.)

(Henfil. A volta do Fradim: uma antologia histórica: charges, 1994.)

Em sua última fala no fragmento do romance Canaã, coerentemente com o que manifestou nas falas anteriores, a personagem Milkau, ao informar o que pretende fazer com seu quinhão de terra, acaba expressando sua própria concepção de mundo. Releia essa fala e faça uma síntese dessa concepção da personagem.

Ver questão

Questão 51154

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 30)

Canaã

— Hoje — disse Milkau quando chegaram a um trecho desembaraçado da praia —, devemos escolher o local para a nossa casa.
— Oh! não haverá dificuldade, neste deserto, de talhar o nosso pequeno lote... — desdenhou Lentz.
— Quanto a mim, replicou Milkau, uma ligeira inquietação de vago terror se mistura ao prazer extraordinário de recomeçar a vida pela fundação do domicílio, e pelas minhas próprias mãos... O que é lamentável nesta solenidade primitiva é a intervenção inútil do Estado...
— O Estado, que no nosso caso é o agrimensor Felicíssimo...
— Não seria muito mais perfeito que a terra e as suas coisas fossem propriedade de todos, sem venda, sem posse?
— O que eu vejo é o contrário disto. É antes a venalidade de tudo, a ambição, que chama a ambição e espraia o instinto da posse. O que está hoje fora do domínio amanhã será a presa do homem. Não acreditas que o próprio ar que escapa à nossa posse será vendido, mais tarde, nas cidades suspensas, como é hoje a terra? Não será uma nova forma da expansão da conquista e da propriedade?
— Ou melhor, não vês a propriedade tornar-se cada dia mais coletiva, numa grande ânsia de aquisição popular, que se vai alastrando e que um dia, depois de se apossar dos jardins, dos palácios, dos museus, das estradas, se estenderá a tudo?... O sentimento da posse morrerá com a desnecessidade, com a supressão da ideia da defesa pessoal, que nele tinha o seu repouso...
— Pois eu — ponderou Lentz —, se me fixar na ideia de converter-me em colono, desejarei ir alargando o meu terreno, chamar a mim outros trabalhadores e fundar um novo núcleo, que signifique fortuna e domínio... Porque só pela riqueza ou pela força nos emanciparemos da servidão.
— O meu quinhão de terra — explicou Milkau — será o mesmo que hoje receber; não o ampliarei, não me abandonarei à ambição, ficarei sempre alegremente reduzido à situação de um homem humilde entre gente simples. Desde que chegamos, sinto um perfeito encantamento: não é só a natureza que me seduz aqui, que me festeja, é também a suave contemplação do homem. Todos mostram a sua doçura íntima estampada na calma das linhas do rosto; há como um longínquo afastamento da cólera e do ódio. Há em todos uma resignação amorosa... Os naturais da terra são expansivos e alvissareiros da felicidade de que nos parecem os portadores... Os que vieram de longe esqueceram as suas amarguras, estão tranquilos e amáveis; não há grandes separações, o próprio chefe troca no lar o seu prestígio pela espontaneidade niveladora, que é o feliz gênio da sua raça. Vendo-os, eu adivinho o que é todo este País — um recanto de bondade, de olvido e de paz. Há de haver uma grande união entre todos, não haverá conflitos de orgulho e ambição, a justiça será perfeita; não se imolarão vítimas aos rancores abandonados na estrada do exílio. Todos se purificarão e nós também nos devemos esquecer de nós mesmos e dos nossos preconceitos, para só pensarmos nos outros e não perturbarmos a serenidade desta vida...

(Graça Aranha. Canaã, 1996.)

(Henfil. A volta do Fradim: uma antologia histórica: charges, 1994.)

— O que eu vejo é o contrário disto. É antes a venalidade de tudo, a ambição, que chama a ambição e espraia o instinto da posse.

Tomando por base o contexto do diálogo e as outras manifestações de Milkau, aponte o argumento que é defendido por Lentz nesta fala.

Ver questão

Questão 51155

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 31)

Canaã

— Hoje — disse Milkau quando chegaram a um trecho desembaraçado da praia —, devemos escolher o local para a nossa casa.
— Oh! não haverá dificuldade, neste deserto, de talhar o nosso pequeno lote... — desdenhou Lentz.
— Quanto a mim, replicou Milkau, uma ligeira inquietação de vago terror se mistura ao prazer extraordinário de recomeçar a vida pela fundação do domicílio, e pelas minhas próprias mãos... O que é lamentável nesta solenidade primitiva é a intervenção inútil do Estado...
— O Estado, que no nosso caso é o agrimensor Felicíssimo...
— Não seria muito mais perfeito que a terra e as suas coisas fossem propriedade de todos, sem venda, sem posse?
— O que eu vejo é o contrário disto. É antes a venalidade de tudo, a ambição, que chama a ambição e espraia o instinto da posse. O que está hoje fora do domínio amanhã será a presa do homem. Não acreditas que o próprio ar que escapa à nossa posse será vendido, mais tarde, nas cidades suspensas, como é hoje a terra? Não será uma nova forma da expansão da conquista e da propriedade?
— Ou melhor, não vês a propriedade tornar-se cada dia mais coletiva, numa grande ânsia de aquisição popular, que se vai alastrando e que um dia, depois de se apossar dos jardins, dos palácios, dos museus, das estradas, se estenderá a tudo?... O sentimento da posse morrerá com a desnecessidade, com a supressão da ideia da defesa pessoal, que nele tinha o seu repouso...
— Pois eu — ponderou Lentz —, se me fixar na ideia de converter-me em colono, desejarei ir alargando o meu terreno, chamar a mim outros trabalhadores e fundar um novo núcleo, que signifique fortuna e domínio... Porque só pela riqueza ou pela força nos emanciparemos da servidão.
— O meu quinhão de terra — explicou Milkau — será o mesmo que hoje receber; não o ampliarei, não me abandonarei à ambição, ficarei sempre alegremente reduzido à situação de um homem humilde entre gente simples. Desde que chegamos, sinto um perfeito encantamento: não é só a natureza que me seduz aqui, que me festeja, é também a suave contemplação do homem. Todos mostram a sua doçura íntima estampada na calma das linhas do rosto; há como um longínquo afastamento da cólera e do ódio. Há em todos uma resignação amorosa... Os naturais da terra são expansivos e alvissareiros da felicidade de que nos parecem os portadores... Os que vieram de longe esqueceram as suas amarguras, estão tranquilos e amáveis; não há grandes separações, o próprio chefe troca no lar o seu prestígio pela espontaneidade niveladora, que é o feliz gênio da sua raça. Vendo-os, eu adivinho o que é todo este País — um recanto de bondade, de olvido e de paz. Há de haver uma grande união entre todos, não haverá conflitos de orgulho e ambição, a justiça será perfeita; não se imolarão vítimas aos rancores abandonados na estrada do exílio. Todos se purificarão e nós também nos devemos esquecer de nós mesmos e dos nossos preconceitos, para só pensarmos nos outros e não perturbarmos a serenidade desta vida...

(Graça Aranha. Canaã, 1996.)

(Henfil. A volta do Fradim: uma antologia histórica: charges, 1994.)

Estabeleça uma relação entre as opiniões das personagens da tira de Henfil e as das personagens de Canaã.

Ver questão

Questão 51156

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 32)

Canaã

— Hoje — disse Milkau quando chegaram a um trecho desembaraçado da praia —, devemos escolher o local para a nossa casa.
— Oh! não haverá dificuldade, neste deserto, de talhar o nosso pequeno lote... — desdenhou Lentz.
— Quanto a mim, replicou Milkau, uma ligeira inquietação de vago terror se mistura ao prazer extraordinário de recomeçar a vida pela fundação do domicílio, e pelas minhas próprias mãos... O que é lamentável nesta solenidade primitiva é a intervenção inútil do Estado...
— O Estado, que no nosso caso é o agrimensor Felicíssimo...
— Não seria muito mais perfeito que a terra e as suas coisas fossem propriedade de todos, sem venda, sem posse?
— O que eu vejo é o contrário disto. É antes a venalidade de tudo, a ambição, que chama a ambição e espraia o instinto da posse. O que está hoje fora do domínio amanhã será a presa do homem. Não acreditas que o próprio ar que escapa à nossa posse será vendido, mais tarde, nas cidades suspensas, como é hoje a terra? Não será uma nova forma da expansão da conquista e da propriedade?
— Ou melhor, não vês a propriedade tornar-se cada dia mais coletiva, numa grande ânsia de aquisição popular, que se vai alastrando e que um dia, depois de se apossar dos jardins, dos palácios, dos museus, das estradas, se estenderá a tudo?... O sentimento da posse morrerá com a desnecessidade, com a supressão da ideia da defesa pessoal, que nele tinha o seu repouso...
— Pois eu — ponderou Lentz —, se me fixar na ideia de converter-me em colono, desejarei ir alargando o meu terreno, chamar a mim outros trabalhadores e fundar um novo núcleo, que signifique fortuna e domínio... Porque só pela riqueza ou pela força nos emanciparemos da servidão.
— O meu quinhão de terra — explicou Milkau — será o mesmo que hoje receber; não o ampliarei, não me abandonarei à ambição, ficarei sempre alegremente reduzido à situação de um homem humilde entre gente simples. Desde que chegamos, sinto um perfeito encantamento: não é só a natureza que me seduz aqui, que me festeja, é também a suave contemplação do homem. Todos mostram a sua doçura íntima estampada na calma das linhas do rosto; há como um longínquo afastamento da cólera e do ódio. Há em todos uma resignação amorosa... Os naturais da terra são expansivos e alvissareiros da felicidade de que nos parecem os portadores... Os que vieram de longe esqueceram as suas amarguras, estão tranquilos e amáveis; não há grandes separações, o próprio chefe troca no lar o seu prestígio pela espontaneidade niveladora, que é o feliz gênio da sua raça. Vendo-os, eu adivinho o que é todo este País — um recanto de bondade, de olvido e de paz. Há de haver uma grande união entre todos, não haverá conflitos de orgulho e ambição, a justiça será perfeita; não se imolarão vítimas aos rancores abandonados na estrada do exílio. Todos se purificarão e nós também nos devemos esquecer de nós mesmos e dos nossos preconceitos, para só pensarmos nos outros e não perturbarmos a serenidade desta vida...

(Graça Aranha. Canaã, 1996.)

(Henfil. A volta do Fradim: uma antologia histórica: charges, 1994.)

Tomando como referência o sistema ortográfico, explique por que o cartunista Henfil, ao aportuguesar, com intenção irônica, a expressão inglesa my brother, colocou o acento agudo em Bróder.

Ver questão

Questão 51160

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 33)

On Solidarity: Who is helped when someone is helped?

There comes a time
When we heed a certain call
When the world must come together as one
There are people dying
And it’s time to lend a hand to life

              Poverty, starvation, diseases, among other social problems, still make many people suffer in different parts of the world, despite the advances in agricultural developments, in medicine and in technology. And, as pointed out in the verses above, from the song We are the world (www.lyrics007.com), there comes a time when we heed a certain call / when the world must come together as one. It seems, however, that such time is and will always be the present time, since there has always been people dying, people suffering physical and psychological oppression. Conversely, aid is always and continuously necessary.
              Fortunately, a number of charities and non-governmental organizations have put forward campaigns to help the populations in poor areas of our planet, to lend a hand to life. This is a way through which food, money and medical help can be provided and thus counterbalance the suffering faced by the ill, the homeless, the poor. And providing aid to these less fortunate populations can be seen, according to the same song, as the greatest gift of all. The song continues, saying that

We can’t go on pretending day by day
That someone, somehow will soon make a change
We are all a part of God’s great big family
And the truth, you know, love is all we need

              The call for help and the claim for responsibility towards the needs of the poor is made to every human being, then everybody should do something because we are all a part of God’s great big family.
              My question is, in fact, what reasons really motivate us to help other people? To what extent are we motivated by the arguments presented in the song? Or are there other reasons involved in solidarity?
The chorus tells us that

There’s a choice we’re making
We’re saving our own lives
It’s true we’ll make a better day, just you and me

but I would question such choice as motivated by the desire for a better world that includes everybody, a world with no big social differences. Perhaps that we actually see solidarity as a way to literally save our own lives, and that you and me would not include as many people as it should. Rather than thinking about so many people who need help, we engage in charity and make donations for our own benefit, to build up an image of solidarity from which we could end up as beneficiaries. Not to feel guilty, to sort of “buy a place in heaven”.
              We certainly need more than romantic love to commit ourselves to true solidarity.

De acordo com o texto, o que cada ser humano é encorajado a fazer, e com base em quais argumentos? Cite dois desses argumentos.

Ver questão

Questão 51161

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 34)

On Solidarity: Who is helped when someone is helped?

There comes a time
When we heed a certain call
When the world must come together as one
There are people dying
And it’s time to lend a hand to life

              Poverty, starvation, diseases, among other social problems, still make many people suffer in different parts of the world, despite the advances in agricultural developments, in medicine and in technology. And, as pointed out in the verses above, from the song We are the world (www.lyrics007.com), there comes a time when we heed a certain call / when the world must come together as one. It seems, however, that such time is and will always be the present time, since there has always been people dying, people suffering physical and psychological oppression. Conversely, aid is always and continuously necessary.
              Fortunately, a number of charities and non-governmental organizations have put forward campaigns to help the populations in poor areas of our planet, to lend a hand to life. This is a way through which food, money and medical help can be provided and thus counterbalance the suffering faced by the ill, the homeless, the poor. And providing aid to these less fortunate populations can be seen, according to the same song, as the greatest gift of all. The song continues, saying that

We can’t go on pretending day by day
That someone, somehow will soon make a change
We are all a part of God’s great big family
And the truth, you know, love is all we need

              The call for help and the claim for responsibility towards the needs of the poor is made to every human being, then everybody should do something because we are all a part of God’s great big family.
              My question is, in fact, what reasons really motivate us to help other people? To what extent are we motivated by the arguments presented in the song? Or are there other reasons involved in solidarity?
The chorus tells us that

There’s a choice we’re making
We’re saving our own lives
It’s true we’ll make a better day, just you and me

but I would question such choice as motivated by the desire for a better world that includes everybody, a world with no big social differences. Perhaps that we actually see solidarity as a way to literally save our own lives, and that you and me would not include as many people as it should. Rather than thinking about so many people who need help, we engage in charity and make donations for our own benefit, to build up an image of solidarity from which we could end up as beneficiaries. Not to feel guilty, to sort of “buy a place in heaven”.
              We certainly need more than romantic love to commit ourselves to true solidarity.

Qual o significado da expressão the greatest gift of all? A que essa expressão se refere?

Ver questão

Questão 51162

(UNESP - 2013 - 2a fase - Questão 35)

On Solidarity: Who is helped when someone is helped?

There comes a time
When we heed a certain call
When the world must come together as one
There are people dying
And it’s time to lend a hand to life

              Poverty, starvation, diseases, among other social problems, still make many people suffer in different parts of the world, despite the advances in agricultural developments, in medicine and in technology. And, as pointed out in the verses above, from the song We are the world (www.lyrics007.com), there comes a time when we heed a certain call / when the world must come together as one. It seems, however, that such time is and will always be the present time, since there has always been people dying, people suffering physical and psychological oppression. Conversely, aid is always and continuously necessary.
              Fortunately, a number of charities and non-governmental organizations have put forward campaigns to help the populations in poor areas of our planet, to lend a hand to life. This is a way through which food, money and medical help can be provided and thus counterbalance the suffering faced by the ill, the homeless, the poor. And providing aid to these less fortunate populations can be seen, according to the same song, as the greatest gift of all. The song continues, saying that

We can’t go on pretending day by day
That someone, somehow will soon make a change
We are all a part of God’s great big family
And the truth, you know, love is all we need

              The call for help and the claim for responsibility towards the needs of the poor is made to every human being, then everybody should do something because we are all a part of God’s great big family.
              My question is, in fact, what reasons really motivate us to help other people? To what extent are we motivated by the arguments presented in the song? Or are there other reasons involved in solidarity?
The chorus tells us that

There’s a choice we’re making
We’re saving our own lives
It’s true we’ll make a better day, just you and me

but I would question such choice as motivated by the desire for a better world that includes everybody, a world with no big social differences. Perhaps that we actually see solidarity as a way to literally save our own lives, and that you and me would not include as many people as it should. Rather than thinking about so many people who need help, we engage in charity and make donations for our own benefit, to build up an image of solidarity from which we could end up as beneficiaries. Not to feel guilty, to sort of “buy a place in heaven”.
              We certainly need more than romantic love to commit ourselves to true solidarity.

Qual o significado da frase buy a place in heaven, no penúltimo parágrafo, e como se relaciona com o conteúdo do texto?

Ver questão