FUVEST 2015

Questão 51295

(UNESP 2015/2 - 2 fase - Questão 10)

A ciência é uma atividade na sua essência antidogmática. Pelo menos deveria sê-lo. A ciência, em particular a física, parte de uma visão do mundo que é, de acordo com a terminologia utilizada por Arquimedes, um pedido que se faz. É assim porque pedimos para que se admita, à escala a que pretendemos descrever os fenômenos, que o mundo assuma uma determinada forma. Os outros pedidos e postulados têm de se inserir, tão pacificamente quanto possível, nesse pedido fundacional. Mas nunca perderão o estatuto de pedidos. Transformá-los em dogmas é perturbar a ciência com atitudes que lhe deveriam ser totalmente estranhas.

(Rui Moreira. “Uma nova visão da natureza”. Le Monde Diplomatique, março de 2015. Adaptado.)

 

Baseando-se no texto, explique qual deve ser a relação entre ciência e verdades absolutas. Explique também a diferença entre uma visão de mundo baseada em “pedidos” e uma visão de mundo dogmática.

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Questão 51298

(UNESP 2015/2 - 2 fase - Questão 12)

Seja como termo, seja como conceito, a filosofia é considerada pela quase totalidade dos estudiosos como criação própria do gênio dos gregos. Sendo assim, a superioridade dos gregos em relação aos outros povos nesse ponto específico é de caráter não puramente quantitativo, mas qualitativo, porque o que eles criaram, instituindo a filosofia, constitui novidade que, em certo sentido, é absoluta. Com efeito, não é em qualquer cultura que a ciência é possível. Há ideias que tornam estruturalmente impossível o nascimento e o desenvolvimento de determinadas concepções – e, até mesmo, ideias que interditam toda a ciência em seu conjunto, pelo menos a ciência como hoje a conhecemos. Pois bem, em função de suas categorias racionais, foi a filosofia que possibilitou o nascimento da ciência, e, em certo sentido, a gerou. E reconhecer isso significa também reconhecer aos gregos o mérito de terem dado uma contribuição verdadeiramente excepcional à história da civilização.

(Giovanni Reale e Dario Antiseri. História da filosofia, vol. 1, 1990. Adaptado.)

 

Baseando-se no texto, explique por que a definição apresentada de “filosofia” pode ser considerada eurocêntrica. Explique também que tipo de ideias apresentaria a característica de impedir o desenvolvimento do conhecimento científico.

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Questão 51656

(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 25) 

As questões de 25 a 28 tomam por base um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). 


                          Fuga

     De repente você resolve: fugir.
     Não sabe para onde nem como
     nem por quê (no fundo você sabe
     a razão de fugir; nasce com a gente).

05 É preciso FUGIR.
     Sem dinheiro sem roupa sem destino.
     Esta noite mesmo. Quando os outros
     estiverem dormindo.
     Ir a pé, de pés nus.
10 Calçar botina era acordar os gritos
     que dormem na textura do soalho1.

     Levar pão e rosca para o dia.
     Comida sobra em árvores infinitas,
     do outro lado do projeto:
15 um verdor
      eterno, frutescente (deve ser).
     Tem à beira da estrada, numa venda.
     O dono viu passar muitos meninos
     que tinham necessidade de fugir 
20 e compreende.
     Toda estrada: uma venda

      para a fuga.

     Fugir rumo da fuga
     que não se sabe onde acaba
25 mas começa em você, ponta dos dedos.
     Cabe pouco em duas algibeiras2
     e você não tem mais do que duas.
     Canivete, lenço, figurinhas
     de que não vai se separar
30 (custou tanto a juntar).
     As mãos devem ser livres
     para pessoas, trabalhos, onças
     que virão.

     Fugir agora ou nunca. Vão chorar?
35 vão esquecer você? ou vão lembrar-se?
     (Lembrar é que é preciso,
     compensa toda fuga.)
     ou vão amaldiçoá-lo, pais da Bíblia?

     Você não vai saber. Você não volta
40 nunca
     (essa palavra nunca, deliciosa)
     Se irão sofrer, tanto melhor.

     Você não volta nunca nunca nunca.
     E será esta noite,meia-noite

45 em ponto.


     Você dormindo à meia noite.

                                                     (Menino antigo, 1973) 

1soalho: o mesmo que "assoalho"; 

2algibeira: bolso de roupa. 

Que fase da vida é explorada pelo poema? Explicite o plano descrito pelo poema e o que sugere o verso 42.

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Questão 51662

(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 26) 

As questões de 25 a 28 tomam por base um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). 


                          Fuga

     De repente você resolve: fugir.
     Não sabe para onde nem como
     nem por quê (no fundo você sabe
     a razão de fugir; nasce com a gente).

05 É preciso FUGIR.
     Sem dinheiro sem roupa sem destino.
     Esta noite mesmo. Quando os outros
     estiverem dormindo.
     Ir a pé, de pés nus.
10 Calçar botina era acordar os gritos
     que dormem na textura do soalho1.

     Levar pão e rosca para o dia.
     Comida sobra em árvores infinitas,
     do outro lado do projeto:
15 um verdor
      eterno, frutescente (deve ser).
     Tem à beira da estrada, numa venda.
     O dono viu passar muitos meninos
     que tinham necessidade de fugir 
20 e compreende.
     Toda estrada: uma venda

      para a fuga.

     Fugir rumo da fuga
     que não se sabe onde acaba
25 mas começa em você, ponta dos dedos.
     Cabe pouco em duas algibeiras2
     e você não tem mais do que duas.
     Canivete, lenço, figurinhas
     de que não vai se separar
30 (custou tanto a juntar).
     As mãos devem ser livres
     para pessoas, trabalhos, onças
     que virão.

     Fugir agora ou nunca. Vão chorar?
35 vão esquecer você? ou vão lembrar-se?
     (Lembrar é que é preciso,
     compensa toda fuga.)
     ou vão amaldiçoá-lo, pais da Bíblia?

     Você não vai saber. Você não volta
40 nunca
     (essa palavra nunca, deliciosa)
     Se irão sofrer, tanto melhor.

     Você não volta nunca nunca nunca.
     E será esta noite,meia-noite

45 em ponto.


     Você dormindo à meia noite.

                                                     (Menino antigo, 1973) 

1soalho: o mesmo que "assoalho"; 

2algibeira: bolso de roupa. 

Esclareça o motivo do emprego de letras maiúsculas na palavra “fugir”, no verso 5, da repetição da palavra “nunca”, no verso 43, e explique o que há de comum entre esses dois recursos expressivos.

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Questão 51663

(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 27) 

As questões de 25 a 28 tomam por base um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). 


                          Fuga

     De repente você resolve: fugir.
     Não sabe para onde nem como
     nem por quê (no fundo você sabe
     a razão de fugir; nasce com a gente).

05 É preciso FUGIR.
     Sem dinheiro sem roupa sem destino.
     Esta noite mesmo. Quando os outros
     estiverem dormindo.
     Ir a pé, de pés nus.
10 Calçar botina era acordar os gritos
     que dormem na textura do soalho1.

     Levar pão e rosca para o dia.
     Comida sobra em árvores infinitas,
     do outro lado do projeto:
15 um verdor
      eterno, frutescente (deve ser).
     Tem à beira da estrada, numa venda.
     O dono viu passar muitos meninos
     que tinham necessidade de fugir 
20 e compreende.
     Toda estrada: uma venda

      para a fuga.

     Fugir rumo da fuga
     que não se sabe onde acaba
25 mas começa em você, ponta dos dedos.
     Cabe pouco em duas algibeiras2
     e você não tem mais do que duas.
     Canivete, lenço, figurinhas
     de que não vai se separar
30 (custou tanto a juntar).
     As mãos devem ser livres
     para pessoas, trabalhos, onças
     que virão.

     Fugir agora ou nunca. Vão chorar?
35 vão esquecer você? ou vão lembrar-se?
     (Lembrar é que é preciso,
     compensa toda fuga.)
     ou vão amaldiçoá-lo, pais da Bíblia?

     Você não vai saber. Você não volta
40 nunca
     (essa palavra nunca, deliciosa)
     Se irão sofrer, tanto melhor.

     Você não volta nunca nunca nunca.
     E será esta noite,meia-noite

45 em ponto.


     Você dormindo à meia noite.

                                                     (Menino antigo, 1973) 

1soalho: o mesmo que "assoalho"; 

2algibeira: bolso de roupa. 

Explicite a decisão contida no verso 9 e explique o que se sugere nos versos 10 e 11 a respeito dessa decisão.

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Questão 51664

(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 28) 

As questões de 25 a 28 tomam por base um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). 


                          Fuga

     De repente você resolve: fugir.
     Não sabe para onde nem como
     nem por quê (no fundo você sabe
     a razão de fugir; nasce com a gente).

05 É preciso FUGIR.
     Sem dinheiro sem roupa sem destino.
     Esta noite mesmo. Quando os outros
     estiverem dormindo.
     Ir a pé, de pés nus.
10 Calçar botina era acordar os gritos
     que dormem na textura do soalho1.

     Levar pão e rosca para o dia.
     Comida sobra em árvores infinitas,
     do outro lado do projeto:
15 um verdor
      eterno, frutescente (deve ser).
     Tem à beira da estrada, numa venda.
     O dono viu passar muitos meninos
     que tinham necessidade de fugir 
20 e compreende.
     Toda estrada: uma venda

      para a fuga.

     Fugir rumo da fuga
     que não se sabe onde acaba
25 mas começa em você, ponta dos dedos.
     Cabe pouco em duas algibeiras2
     e você não tem mais do que duas.
     Canivete, lenço, figurinhas
     de que não vai se separar
30 (custou tanto a juntar).
     As mãos devem ser livres
     para pessoas, trabalhos, onças
     que virão.

     Fugir agora ou nunca. Vão chorar?
35 vão esquecer você? ou vão lembrar-se?
     (Lembrar é que é preciso,
     compensa toda fuga.)
     ou vão amaldiçoá-lo, pais da Bíblia?

     Você não vai saber. Você não volta
40 nunca
     (essa palavra nunca, deliciosa)
     Se irão sofrer, tanto melhor.

     Você não volta nunca nunca nunca.
     E será esta noite,meia-noite

45 em ponto.


     Você dormindo à meia noite.

                                                     (Menino antigo, 1973) 

1soalho: o mesmo que "assoalho"; 

2algibeira: bolso de roupa. 

Identifique uma forma verbal e um substantivo que, bastante retomados ao longo do poema, ilustram seu tema. Em seguida, valendo-se dessa informação, explique a oposição entre o último verso e o restante do poema.

 

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Questão 51667

(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 29) 

As questões de 29 a 32 focalizam um trecho de uma crônica do escritor Eça de Queirós (1845-1900) e uma tira da cartunista Ciça (Cecília Whitaker Alves Pinto).

XXIV

     O Parlamento vive na idade de ouro. Vive nas idades inocentes em que se colocam as lendas do Paraíso – quando o mal ainda não existia, quando Caim era um bom rapaz, quando os tigres passeavam docemente par a par com os cordeiros, quando ninguém tinha tido o cavalheirismo de inventar a palavra calúnia! – e a palavra mente! não atraía a bofetada!

     Senão vejam! Todos os dias aqueles ilustres deputados se dizem uns aos outros: É falso! É mentira! E não se esbofeteiam, não se enviam duas balas! Piedosa inocência! Cordura1 evangélica! É um Parlamento educado por S. Francisco de Sales!

     O ilustre deputado mente!

     Ah, minto? Pois bem, apelo...

Cuidam que apela para o espalmado da sua mão direita ou para a elasticidade da sua bengala? – Não, meus caros senhores, apela – para o País!

Quanta elevação cristã num diploma de deputado! Quando um homem leva em pleno peito, diante de duzentas pessoas que ouvem e de mil que leem, este rude encontrão: É falso! – e diz com uma terna brandura: Pois bem, apelo para o País! – este homem é um santo! Não entrará decerto nunca no Jockey-Club, donde a mansidão é excluída, mas entrará no reino do Céu, onde a humildade é glorificada.

É uma escola de humildade este Parlamento! Nunca em parte nenhuma, como ali, o insulto foi recebido com tão curvada paciência, o desmentido acolhido com tão sentida resignação! Sublime curso de caridade cristã. E veremos os tempos em que um senhor deputado, esbofeteado em pleno e claro Chiado2 , dirá modestamente ao agressor, mostrando o seu diploma: –“Sou deputado da Nação Portuguesa! Apelo para o País! Pode continuar a bater!”

(Uma campanha alegre. Agosto, 1871.)

  • 1 cordura: sensatez, prudência.
  • 2 Chiado: um bairro tradicional de Lisboa e importante área cultural em meados do século XIX.

 

Indique os dois planos de significação que o fragmento de crônica apresenta, identifique a figura de linguagem utilizada para produzir um deles e explique qual dos dois planos corresponde à opinião real do cronista.

 

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Questão 51668

(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 30) 

As questões de 29 a 32 focalizam um trecho de uma crônica do escritor Eça de Queirós (1845-1900) e uma tira da cartunista Ciça (Cecília Whitaker Alves Pinto).

XXIV

     O Parlamento vive na idade de ouro. Vive nas idades inocentes em que se colocam as lendas do Paraíso – quando o mal ainda não existia, quando Caim era um bom rapaz, quando os tigres passeavam docemente par a par com os cordeiros, quando ninguém tinha tido o cavalheirismo de inventar a palavra calúnia! – e a palavra mente! não atraía a bofetada!

     Senão vejam! Todos os dias aqueles ilustres deputados se dizem uns aos outros: É falso! É mentira! E não se esbofeteiam, não se enviam duas balas! Piedosa inocência! Cordura1 evangélica! É um Parlamento educado por S. Francisco de Sales!

     O ilustre deputado mente!

     Ah, minto? Pois bem, apelo...

Cuidam que apela para o espalmado da sua mão direita ou para a elasticidade da sua bengala? – Não, meus caros senhores, apela – para o País!

Quanta elevação cristã num diploma de deputado! Quando um homem leva em pleno peito, diante de duzentas pessoas que ouvem e de mil que leem, este rude encontrão: É falso! – e diz com uma terna brandura: Pois bem, apelo para o País! – este homem é um santo! Não entrará decerto nunca no Jockey-Club, donde a mansidão é excluída, mas entrará no reino do Céu, onde a humildade é glorificada.

É uma escola de humildade este Parlamento! Nunca em parte nenhuma, como ali, o insulto foi recebido com tão curvada paciência, o desmentido acolhido com tão sentida resignação! Sublime curso de caridade cristã. E veremos os tempos em que um senhor deputado, esbofeteado em pleno e claro Chiado2 , dirá modestamente ao agressor, mostrando o seu diploma: –“Sou deputado da Nação Portuguesa! Apelo para o País! Pode continuar a bater!”

(Uma campanha alegre. Agosto, 1871.)

  • 1 cordura: sensatez, prudência.
  • 2 Chiado: um bairro tradicional de Lisboa e importante área cultural em meados do século XIX.

 

A sentença cristã “Oferece a outra face” pode ser entendida em um aspecto físico e em um aspecto moral. Transcreva a frase do último parágrafo da crônica em que um político alude a essa sentença, aponte qual aspecto quer realmente ressaltar e com que intenção o faz.

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Questão 51669

(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 31) 

As questões de 29 a 32 focalizam um trecho de uma crônica do escritor Eça de Queirós (1845-1900) e uma tira da cartunista Ciça (Cecília Whitaker Alves Pinto).

XXIV

     O Parlamento vive na idade de ouro. Vive nas idades inocentes em que se colocam as lendas do Paraíso – quando o mal ainda não existia, quando Caim era um bom rapaz, quando os tigres passeavam docemente par a par com os cordeiros, quando ninguém tinha tido o cavalheirismo de inventar a palavra calúnia! – e a palavra mente! não atraía a bofetada!

     Senão vejam! Todos os dias aqueles ilustres deputados se dizem uns aos outros: É falso! É mentira! E não se esbofeteiam, não se enviam duas balas! Piedosa inocência! Cordura1 evangélica! É um Parlamento educado por S. Francisco de Sales!

     O ilustre deputado mente!

     Ah, minto? Pois bem, apelo...

Cuidam que apela para o espalmado da sua mão direita ou para a elasticidade da sua bengala? – Não, meus caros senhores, apela – para o País!

Quanta elevação cristã num diploma de deputado! Quando um homem leva em pleno peito, diante de duzentas pessoas que ouvem e de mil que leem, este rude encontrão: É falso! – e diz com uma terna brandura: Pois bem, apelo para o País! – este homem é um santo! Não entrará decerto nunca no Jockey-Club, donde a mansidão é excluída, mas entrará no reino do Céu, onde a humildade é glorificada.

É uma escola de humildade este Parlamento! Nunca em parte nenhuma, como ali, o insulto foi recebido com tão curvada paciência, o desmentido acolhido com tão sentida resignação! Sublime curso de caridade cristã. E veremos os tempos em que um senhor deputado, esbofeteado em pleno e claro Chiado2 , dirá modestamente ao agressor, mostrando o seu diploma: –“Sou deputado da Nação Portuguesa! Apelo para o País! Pode continuar a bater!”

(Uma campanha alegre. Agosto, 1871.)

  • 1 cordura: sensatez, prudência.
  • 2 Chiado: um bairro tradicional de Lisboa e importante área cultural em meados do século XIX.

 

Comprovando com informações extraídas da tira, determine o que representa a personagem que faz as solicitações, o que deseja e em que medida o balão maior do último quadrinho revela uma frustração desse desejo.

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Questão 51670

(UNESP - 2015/2 - 2 fase - Questão 32) 

As questões de 29 a 32 focalizam um trecho de uma crônica do escritor Eça de Queirós (1845-1900) e uma tira da cartunista Ciça (Cecília Whitaker Alves Pinto).

XXIV

     O Parlamento vive na idade de ouro. Vive nas idades inocentes em que se colocam as lendas do Paraíso – quando o mal ainda não existia, quando Caim era um bom rapaz, quando os tigres passeavam docemente par a par com os cordeiros, quando ninguém tinha tido o cavalheirismo de inventar a palavra calúnia! – e a palavra mente! não atraía a bofetada!

     Senão vejam! Todos os dias aqueles ilustres deputados se dizem uns aos outros: É falso! É mentira! E não se esbofeteiam, não se enviam duas balas! Piedosa inocência! Cordura1 evangélica! É um Parlamento educado por S. Francisco de Sales!

     O ilustre deputado mente!

     Ah, minto? Pois bem, apelo...

Cuidam que apela para o espalmado da sua mão direita ou para a elasticidade da sua bengala? – Não, meus caros senhores, apela – para o País!

Quanta elevação cristã num diploma de deputado! Quando um homem leva em pleno peito, diante de duzentas pessoas que ouvem e de mil que leem, este rude encontrão: É falso! – e diz com uma terna brandura: Pois bem, apelo para o País! – este homem é um santo! Não entrará decerto nunca no Jockey-Club, donde a mansidão é excluída, mas entrará no reino do Céu, onde a humildade é glorificada.

É uma escola de humildade este Parlamento! Nunca em parte nenhuma, como ali, o insulto foi recebido com tão curvada paciência, o desmentido acolhido com tão sentida resignação! Sublime curso de caridade cristã. E veremos os tempos em que um senhor deputado, esbofeteado em pleno e claro Chiado2 , dirá modestamente ao agressor, mostrando o seu diploma: –“Sou deputado da Nação Portuguesa! Apelo para o País! Pode continuar a bater!”

(Uma campanha alegre. Agosto, 1871.)

  • 1 cordura: sensatez, prudência.
  • 2 Chiado: um bairro tradicional de Lisboa e importante área cultural em meados do século XIX.

 

Indique a semelhança e a diferença entre a tira de Ciça e a crônica de Eça de Queirós, no que diz respeito aos alvos da crítica que fazem, e identifique a intenção dessa crítica nos dois textos.

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